
Quando, há uma semana, um dos exércitos com mais apurada preparação em todo o mundo, ao desencadear um ataque para destroçar uma cave onde haveria reuniões de gente do Hamas e da Jihad, matou nove dos dez filhos do casal de médicos al-Najjar, ela pediatra, ele cirurgião, sem quaisquer ligações ao Hamas, de cujos métodos discordam, e que continuam a cuidar das pessoas em Gaza, não há desculpa possível.
Netanyahu repete que as ações militares visam eliminar objetivos terroristas. É um argumento que distorce a realidade. Netanyahu camufla os continuados massacres de civis, bebés, crianças e idosos incluídos, com proclamações de vitória sobre os terroristas. Entre as dezenas de pessoas mortas diariamente em Gaza pelos ataques israelitas estão seres que estão entre os mais vulneráveis do mundo. Morrem abatidos pelas bombas, pela falta de tratamento, pela fome e pela sede, porque o reabastecimento é impedido e assim usado como arma de guerra.
O exército israelita tem múltiplas vezes exibido a sua altíssima precisão a atingir o alvo pretendido. Quando neste último ano quis eliminar alvos da Hezbollah em prédios altos no labiríntico coração de Beirute, soube fazê-lo com pontaria cirúrgica: o disparo atingiu o andar onde estavam chefes do Hezbollah, as outras pessoas nesse prédio não foram atingidas a não ser pelo sobressalto. Quando, na semana passada, devastou a família dos médicos al-Najjar, em Khan Younis, aquela tropa obviamente sabia que, ao devastar todo aquele prédio e não apenas o armazém que seria alvo, ia carbonizar o corpo de crianças. Obviamente, sabia quem estava na casa acima dessa cave. De dez filhos resta um sobrevivente, Adam, o mais velho, 12 anos, que duas ONG estão a tentar tirar de Gaza para ser tratado no serviço de queimados de um hospital europeu.
O ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra civis judeus foi um crime bárbaro. Representou uma intolerável escalada selvagem na crueldade humana no nosso tempo. Ao desencadear essa barbárie, o Hamas sabia que também ia colocar o povo de Gaza como refém.
Israel quis vingança. Mas sendo uma democracia, ao contrário do Hamas, tem o dever moral de o fazer dentro dos limites da proporção, impondo o valor do humanismo nessa retaliação com eliminação dos terroristas. Sem massacrar a sempre muito vulnerável população civil.
A pretensão de Netanyahu e do governo de Israel de erradicar o Hamas converteu-se em desejo absoluto de, com toda a desumanidade, desenraizar, dizimar e erradicar o povo de Gaza. Com propósito de avançar também sobre a outra Palestina ocupada, a Cisjordânia, onde disparam os ilegais colonatos judaicos.
Quando o acesso a um pedaço de pão se torna uma arma feroz e eficaz para dosear a sobrevivência dos seres humanos, só podemos qualificar quem usa esse poder de bando de criminosos cruéis. Comparáveis com os terroristas do Hamas.
Nós sabemos que está a ser assim. O nosso discernimento e a nossa humanidade não pode consentir o silêncio sobre esta barbárie em curso.
Ao contrário da guerra na Ucrânia, onde ainda sabemos de tentativas de política e diplomacia para encontrar um compromisso de paz, na guerra de Gaza as tentativas de negociação são tímidas e não há força para fazer parar a agressão continuada em curso da parte de Netanyahu.
É nosso dever como cidadãos pressionar os nossos poderes políticos para que reajam em modo que impeça a continuação dos abusos por parte do governo de Netanyahu – distinguindo esse bando no poder de outra realidade que é o povo de Israel.
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