“Os ‘smartphones’ são ‘cavalos de Tróia’ que capturam a nossa privacidade sem darmos por isso”, declarou o especialista em ética e inteligência artificial Pedro Saleiro, no âmbito das Conferências de Lisboa.
As grandes empresas de tecnologia usam-nas para captar metadados em cada interação com o telemóvel que depois servem os seus fins lucrativos, por exemplo, na venda de publicidade.
Em troca, oferecem serviços e ferramentas que as pessoas realmente querem, mas que as tornam dependentes: “aceitamos contratos de utilização de serviços que, se nos fossem oferecidos por outro humano, frente a frente, recusaríamos”, declarou.
No contexto da pandemia, alguns estados adotaram mecanismos de vigilância – como as aplicações de rastreio de contactos, que, como todos os sistemas computacionais, são vulneráveis a ataques externos e que “abrem o seu uso para fins totalitários”.
Em clima de competição comercial e tecnológica pelos avanços na inteligência artificial, China e Estados Unidos da América deixam para trás a Europa, “que neste momento não é capaz de competir”.
A mais valia europeia, disse, pode ser assumir uma “liderança moral”, assente na reputação da União Europeia de ser “pioneira em boas práticas e nova regulação para um uso responsável dos dados e da inteligência artificial”.
A Europa tem tido “iniciativas importantes, mas vagas e tecnocráticas”, ressalvou, defendendo que é preciso ação concreta para “um modelo de governança para a inteligência artificial”.
A investigadora irlandesa Chloe Teevan, do Centro Europeu para o Desenvolvimento de Políticas, afirmou que, apesar de tendencialmente mais do lado norte-americano, a Europa não quer, na verdade, escolher um lado.
Chloe Teevan exemplificou com a pressão feita pelos norte-americanos para que países europeus banissem a marca Huawei, algo que “poucos fizeram”.
“A União Europeia tem resistido às exigências dos Estados Unidos para se dissociar da China, mas ao mesmo tempo, vemos que há mais áreas de acordo com os EUA do que com a China”, declarou.
A investigadora considerou que “a União Europeia não quer ser apanhada entre estas duas potências, por isso temos assistido a um foco maior na soberania digital”, em que os parceiros europeus querem ser “atores mais soberanos”, baseados na criação do seu próprio “modelo de governança para a esfera digital”, que por enquanto não passa muito de “grandes aspirações”.
Para tal, precisa de conseguir “um equilíbrio entre o ‘capitalismo de vigilância’ simbolizado pelas grandes empresas tecnológicas norte-americanas e a vigilância estatal que é evidente na China e em alguns dos seus aliados”.
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