A investigação, publicada na Nature Physics e citada na segunda-feira pela agência Europa Press, detalha uma mistura de azeite, água e partículas magnetizadas que, quando agitadas, se separam rapidamente no que se assemelha às linhas classicamente curvilíneas de um vaso grego.

"Imagine o seu molho de salada italiano favorito", frisou Thomas Russell, professor de ciência e engenharia de polímeros na Universidade de Massachusetts Amherst e um dos principais autores do artigo."É feito de azeite, água e especiarias e, antes de o colocar na salada, agita-se para misturar todos os ingredientes”, acrescentou.

São estes temperos, estes pequenos pedaços de alguma coisa, que permitem que a água e o azeite, que são normalmente mutuamente excludentes, se misturem, um processo chamado emulsificação, descrito pelas leis da termodinâmica.

A emulsificação é a base para uma vasta gama de tecnologias e aplicações que vão muito além dos condimentos e, um dia, o estudante de pós-graduação Anthony Raykh estava no laboratório a misturar um lote deste “molho para salada” científico para ver o que poderia criar.

Só que em vez de especiarias, utilizou partículas de níquel magnetizadas, "porque se pode conceber todo o tipo de materiais interessantes com propriedades úteis quando um fluido contém partículas magnéticas", contou Raykh, citado num comunicado.

Preparou a mistura, sacudiu-a e, para sua surpresa, a mistura assumiu a forma perfeita de um vaso grego. Não importava quantas vezes ou com que força a sacudisse, a urna voltava sempre ao seu formato original.

Vaso grego
Vaso grego Acropolis Museum general director Nikolaos Stampolidis points at 'Meidias hydria', a 2,500-year-old Greek vase on loan from the British museum, as he talks to the press during the temporary exhibition titled "Meanings" at the Acropolis Museum, in Athens on December 5, 2023. The Greek vase has never left the British Museum in 250 years. But Acropolis Museum general director insisted that the four-month loan has no bearing on ongoing talks between Athens and London on the fate of the Parthenon Marbles, which were at the centre of a diplomatic spat between the two countries last week. (Photo by Angelos Tzortzinis / AFP) créditos: AFP or licensors

Raykh ficou surpreendido com a descoberta e andou pelos corredores do Departamento de Ciência e Engenharia de Polímeros a bater à porta dos professores a perguntar se sabiam o que se estava a passar.

Ninguém sabia. Mas chamou a atenção de Russell e David Hoagland, professor de ciência e engenharia de polímeros, outro autor sénior do artigo e especialista em materiais macios.

A equipa conduziu experiências e contactou colegas das universidades de Tufts e Syracuse para criar simulações. Juntos, o esforço colaborativo determinou que o magnetismo, o magnetismo "forte", explica o fenómeno inexplicável que Raykh tinha descoberto.

"Ao observar atentamente as nanopartículas de níquel magnetizadas individuais que formam a fronteira entre a água e o azeite, podemos obter informações extremamente detalhadas sobre a forma como as diferentes formas se montam. Neste caso, as partículas são tão fortemente magnetizadas que a sua montagem interfere no processo de emulsificação, descrito pelas leis da termodinâmica”, sublinhou Hoagland.

Normalmente, as partículas adicionadas a uma mistura de óleo e água diminuem a tensão na interface entre os dois líquidos, permitindo que estes se misturem.

Mas, curiosamente, as partículas com magnetismo suficiente aumentam a tensão interfacial, curvando a fronteira entre o azeite e a água numa curva elegante.

"Quando se vê algo que não deveria ser possível, é preciso investigar", realçou Russell.

Embora ainda não haja qualquer aplicação para a sua nova descoberta, Raykh está entusiasmado para ver como este estado sem precedentes pode influenciar o campo da física da matéria mole.