Os petardos dos sapadores que interromperam negociações

Pelo menos três centenas de bombeiros sapadores e profissionais estiveram concentrados junto à sede do Governo, em Lisboa, para contestar, ao som de gritos e petardos, o que classificam ser uma "falta de respeito" pela classe.

Qual a razão do protesto?

Os bombeiros sapadores reivindicam melhores condições salariais, referindo que a carreira não é revista há mais de 20 anos. Tal inclui as seguintes reivindicações.

Este profissionais exigem um aumento salarial não inferior a 200 euros, subsídio de risco igualado ao das forças de segurança e redução da idade da reforma.

Cada bombeiro aufere em média um salário de 1.228 euros brutos, que podem chegar aos 2000 se forem somados subsídios e outros extras.

O que aconteceu hoje em Lisboa?

Pelo menos três centenas de bombeiros sapadores e profissionais juntaram-se em Lisboa, junto à sede do Governo, para contestar, ao som de gritos e petardos, o que classificam como "falta de respeito" pela classe.

"O Governo e os políticos estão a faltar à palavra dada nas negociações", afirmou Ricardo Ribeiro, dos Sapadores de Lisboa.

A concentração dos sapadores começou em Alvalade e o grupo de bombeiros, todos fardados e muitos com capacetes, percorreu a Avenida de Roma em passo lento, gritando palavras de ordem contra o Governo e disparando petardos e fumos.

O Governo recebeu-os?

Não. O Governo suspendeu a reunião negocial com representantes dos bombeiros sapadores agendada para hoje, por considerar não estarem reunidas condições de segurança devido à manifestação em curso no exterior.

"O Governo suspende de imediato reunião negocial com representantes dos sapadores, por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação”, afirmou fonte do Governo numa nota enviada à Lusa, quando centenas de bombeiros se manifestam em frente à sede do Governo.

E qual a reação dos sapadores?

O presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) acusou hoje o Governo ter usado a alegada falta de segurança da manifestação “como pretexto” para romper as negociações e “diabolizar os bombeiros”.

A reunião negocial entre sindicatos representativos dos bombeiros sapadores e Governo foi hoje suspensa pelo Executivo, que alegou falta de condições tendo em conta que do lado de fora do edifício cerca de três centenas de bombeiros protestavam lançando petardos e gritando palavras de ordem.

“Nós nem nos apercebíamos do que se passava cá fora porque não se ouvia nada lá dentro. Fomos todos apanhados de surpresa. Disseram que não havia condições de segurança, que havia feridos, mas já percebemos que não era verdade. Se calhar foi um pretexto, quando perceberam que os sindicatos estavam todos a dizer que a proposta, nos moldes em que estava, não era passível de negociação. Foi um escape que arranjaram para poder sair da negociação diabolizando os bombeiros”, disse à Lusa o presidente do SNBS, Ricardo Cunha.

E o que mais aconteceu?

A PSP vai comunicar ao Ministério Público o protesto de hoje dos bombeiros sapadores junto à sede do Governo, em Lisboa, por não ter sido comunicada às autoridades e por utilização ilegal de petardos, anunciou aquela polícia.

Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP refere que a Polícia de Segurança Pública vai elaborar um auto de notícia sobre a manifestação dos bombeiros sapadores “não legalmente comunicada e remetê-lo ao Ministério Público (MP) com a identificação dos diversos organizadores e participantes”.

A PSP avança também que vão ser devidamente identificados no auto de notícia a remeter ao MP a utilização de artigos de pirotecnia.

Haverá novo encontro?

Provavelmente. O Governo disse hoje que o processo negocial com os bombeiros sapadores "poderá, eventualmente, ser retomado" se as partes se comprometerem com um "diálogo institucional sereno", após a interrupção de negociações devido a protestos que obrigaram à intervenção da PSP.

"O processo negocial poderá, eventualmente, ser retomado, se e quando assegurado o comprometimento das partes envolvidas com um diálogo institucional sereno, respeitador da ordem pública e da racionalidade deliberativa", refere um comunicado conjunto do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território e da secretária de Estado da Administração Pública, relativo à negociação com os bombeiros sapadores e com esclarecimentos do executivo sobre o que aconteceu ao longo do dia.

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