Boris, Brexit e Bruxelas. Acordo à vista, acordo fechado, mas chega a Londres e é adiado. Outra vez. E outra vez os catalães na rua. Marcham na rua, às centenas de milhares, depois das sentenças proferidas.Depois das palavras de prisão libertadas pelos juízes, ouvidas palavras de liberdade pelo povo. E enquanto uns marcham, cantam e dançam, outros incendeiam, partem e destroem, e a polícia bate em todos.
Todos e tudo, em tudo e em todos, até nos que estão sentados pacificamente. Como pacificamente estava sentada a Rainha Sofia a ouvir o discurso da neta que falava enquanto herdeira do trono, filha dos Príncipes das Astúrias, num momento de real embaraço real. Não que a criança fale mal, mas porque toda a pompa da própria existência de realeza em pleno 2019, por si só, já é um portento de embaraçosa nobreza. Acho eu.
Mas não acha o José Pinto Coelho, líder do PNR, que escreveu um tweet esta semana a defender o regresso da monarquia ao país. Sempre a surpreender, estes fachos, de facto. Ai, não se pode chamar "fachos" aos fachos. Fachos, fachos, fachos por todo o lado. Com tantos a sair da toca nas redes sociais, fomos ficando a saber que os fachos tanto odeiam pretos e ciganos, como odeiam ser tratados por fachos. Politicamente correcto e liberdade de expressão, sim, mas só para o que lhes convém.
Como convém não esquecer que esta semana o Rei das Selfies, Pai de Todos e Presidente da República recebeu um magote de influencers em Belém, ficando de fora do lote as maiores de todas. Tininha Ferreira e Dolores Mãe Coragem, de fora da presidência, mas juntas como imperatrizes numa manhã de televisão, cuja noite trouxe a derrota do Sporting com o Alverca da terceira. Divisão no clube entre quem acha que é para continuar, e quem acha que mais vale mandar já fechar.
Ao contrário de Kim Jong-Un que apareceu a abrir, por entre vales cobertos de árvores, heróis e fantasmas, cavalgando o seu cavalo branco, qual príncipe desencantado que faz qualquer donzela preferir morrer na masmorra a por ele ser salva. De tiros, desespero e morte tem estado coberto o Curdistão, num massacre perpetrado por Erdogan, mas provocado pelo Trump que, agora que negociou um mini cessar-fogo, se gaba do feito dizendo que a civilização está contente. Logo na mesma altura em que a Casa Branca assume que houve qui pro quo com a Ucrânia, dias depois de ter dito que nada disso se teria passado. Isto não se inventa, isto não se ficciona, o mundo ninguém percebe como é que funciona.
Um equilíbrio periclitante desta ansiedade planetária e ubíqua que nos deixa eternamente no limbo existencial, quase tão vazio como esta própria frase e sem respostas para nada, e cuja única dúvida que me sobra é se peço outra cerveja já, ou peço só daqui a cinco minutos.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Gomorra: Volto a sugerir a incrível série porque estou a agora a acabar a quarta temporada, na HBO.
- Zarco: o novo álbum é uma maravilha e já está no Spotify.
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