Este amor é o cenário feliz e positivo. O lado infeliz e incompreensível chega a seguir. O casal não tem família em Lisboa, não há ninguém para os ajudar e revezam-se para tomar conta da inesperada prole. O marido trabalha durante a noite, ela durante o dia. Concluíram que creches privadas custariam 1500 euros mensais, mais do que um ordenado. Foram à Segurança Social perguntar como podiam ter ajuda. Ninguém os soube informar, entre encolher de ombros e perguntas básicas, uma funcionária acabou por dizer que talvez fosse de um dos elementos do casal ficar em casa. Não têm condições para isso, precisam dos dois salários. Pois, temos pena... Eis o que concluíram na Segurança Social. “Foi o mesmo que me dizerem que eu era culpada por ter engravidado e terem saído três em vez de uma criança”, desabafa a mulher, sempre animada, reafirmando que não irá perder o optimismo. Depois prossegue no relato, acrescentando que o passo natural seria procurar uma creche pública e até há um site na internet que indica todas as creches existentes em Lisboa.
O casal acabou por procurar ajuda junto de Instituições particular de solidariedade social, as designadas IPSS, instituições sem finalidade lucrativa e que fornecem apoio a famílias e crianças. “A resposta foi simples: não há vagas, muito menos para três crianças, pode inscrever-se, mas não tenha esperança”. A associação portuguesa de famílias numerosas, já que a partir do momento em que são cinco constituem uma família numerosa, também não teve como os ajudar.
Conclusão? A mulher trabalha, o marido fica com as crianças; a mulher chega a casa e ele sai para trabalhar. Há meses que é assim. Não será o melhor para o casamento? Não, não será certamente, mas o que me surpreendeu mais foi a maneira como todo o relato aconteceu, sem o mínimo de amargura, sem queixas de maior, sem insultos ao Estado e à ordem das coisas e das instituições. A mulher riu-se quando lhe disse que admirava o seu optimismo. E ela respondeu: “As minhas meninas são saudáveis. Não pediram para nascer. Eu farei tudo o que posso”.
Fará o que pode e o que não pode. O Estado nem dará por isso.
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