Por um lado, o “Temos todos de ser vegan imediatamente, nunca mais tocar em absolutamente nada que seja feito de plástico, andar a pé ou de bicicleta mesmo que seja para fazer Lisboa – Shangai, tomar banho só uma vez por semana e ser forte para aguentar o bedum acumulado, usar os dois lados do papel higiénico tanto no meio como nos cantos, e, tanto quanto possível, evitar respirar muito para não gastar oxigénio. Tudo isto sob pena de, caso contrário, daqui a duas semanas e meia o planeta implodir e se transformar numa bola de esterco a vaguear no espaço”.
Por outro lado, o “Mas agora temos todos de ser vegan? Era o que mais faltava eu agora ter de reduzir seja que quantidade for de carne de vaca que como, não usar o carro sempre que quiser mesmo que seja para ir pôr o lixo ao final da rua, deixar de tomar banho de imersão todos os dias ou fechar a torneira enquanto escovo os dentes, não poder usar dois copos de plástico não reutilizável por cada imperial, e estar constantemente ofegante para inspirar um milhão de vezes por minuto, até porque as alterações climáticas sempre existiram na Terra e nem sequer está provado que a humanidade tenha qualquer impacto nisso, por isso quero é que a Greta e vocês todos que são pseudo-ambientalistas vão mas é enfiar uma beringela nesse sítio que nem deve estar bem limpo para pouparem papel higiénico”.
Calma. Primeiro, isso do “não está provado” é mentira. É patético negarem a ciência, parem lá com isso, se fazem favor, que é embaraçoso de se ver.
Agora, claro que o mundo não vai acabar se não nos tornarmos todos vegan ainda hoje. Mas sim, claro que temos mesmo de mudar muitas coisas rapidamente se não nos apetecer andar já todos de máscara respiratória e com as influencers a fazer stories com máscaras da Gucci e da Louis Vuitton.
E será que custa assim tanto fazer só uma ou duas refeições de carne por semana em vez de sete ou oito? À partida, não. Temos de destruir os carros? Não, não. Mas podemos fazer muito mais percursos a pé, de bicicleta ou transportes. E consumir muito menos plástico, roupa e coisas no geral, e mudar uma série de pequenos hábitos que, todos juntos, podem fazer grandes mudanças.
Agora, quem sou para vos dizer isto? Ninguém, é verdade. Mas também é um pouco parvo que um senhor, a meio da manifestação pelo clima onde estive ontem, viesse berrar comigo por eu estar com um copo de plástico. Bem lhe tentei explicar que era reutilizável, que usei o mesmo copo o dia todo e que no fim o ia devolver ou guardar (como fiz), mas não adiantou muito.
Se calhar, para a próxima tento juntar as mãos em conchinha e os senhores nos cafés servem-me a cerveja nas mãos. Podem tirar-me o plástico, mas não me tiram a cerveja.
Portanto, a conclusão é simples. No meio – ambiente – é que está a virtude.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Between Two Ferns, The Movie: Netflix. Que maravilha.
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