Numa aldeia do México, espalhou-se o boato – notícia sem fonte identificada e sem credibilidade verificada – de que dois homens seriam sequestradores de crianças. A notícia espalhou-se pelo WhatsApp mais rápido do que qualquer meme daquele senhor de panamá verde e toalha também verde ao pescoço a segurar um tronco de uma sequoia. Naquele dia, os grupos de WhatsApp devem ter destilado quase tanto ódio e violência como os do pessoal que foi a Alcochete naquele fatídico dia arrefinfar (este verbo existe sem ser na oralidade?) no plantel do Sporting. Neste caso, não foi “só” uma fivela na cabeça do Bas Dost, morreram duas pessoas inocentes. Chato (no mínimo). Agora, não deixa de ser curioso como é que a evolução da tecnologia parece tantas vezes estar a levar as sociedades a tempos medievais e não para o futuro. O WhatsApp funcionou como um arauto – mentiroso – que as pessoas não hesitaram em confiar, pegaram nas suas foices e archotes e chegaram fogo a duas pessoas que estavam a fazer a sua vida normal como todos os outros dias – dias esses que não envolviam, pelo menos não havia a mínima prova, sequestrar crianças.
Não é para isso que devia servir o WhatsApp, essa aplicação que até considero extremamente útil. Serve para receber vídeos divertidos (aqueles de rir a bom rir), serve para ficar mais ou menos 2 meses para conseguir combinar um jantar com toda a gente do grupo (e mesmo assim falta alguém), serve para engates intermináveis com nudes à mistura, serve para mensagem como “puto, já segues esta gatinha no Instagram” com o link do perfil logo a seguir, e serve até para ter conversas só por clips de áudio, sendo que há sempre aquele amigo que manda clips tão grandes que todo o resto do grupo lhe acaba a sugerir que mais valia começar um podcast.
Serve para tanta coisa boa, que não devia lá caber tanto ódio. Mas ao mesmo tempo, serve para procrastinarmos muito, serve para passarmos horas a ler conversas estéreis, e portanto serve para lermos menos, para nos informarmos menos, para sermos menos cultos e educados. Logo, serve para o ódio.
Sinto que o meu ponta de vista em relação ao WhatsApp ficou turvo. Vou concluir: o WhatsApp é excelente, é pena estar cheio de pessoas sem cérebro.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Concertos de Mozart: Encontrei uma lista no Spotify com dezenas de concertos de Mozart para piano, violino, trompa, clarinete e por aí fora. Procurem que vale a pena.
- The Sinner: Recomendei na semana passada e agora já vi todos os episódios. Não achei incrível e maravilhosa, mas é uma boa série.
Comentários