“Eu nem sei se vale a pena...”, suspira uma jovem de telemóvel em punho, naquela atitude semi distraída em que anda meio mundo, entre a realidade e as redes sociais. “Eu safava-me se fosse trabalhar”. E a amiga, cabelo comprido, sorriso meigo, responde-lhe com rapidez: “Sim, sim, vais parar a uma loja, trabalhas que nem uma escrava e ganhas uma miséria para todo o sempre”. E a partir deste mote, os outros rapazes sentados à mesma mesa, três miúdos com 18 ou 19 anos de idade, fungam e explicam que trabalhar não deve ser tão mau assim, pior mesmo é pensar que em outubro voltam aos estudos. “Eu cá dispensava ter mais professores e mais livros”, diz o moço à direita, chupando um cigarro com afinco. E a conversa mantém-se neste tom, sem grande entusiasmo, sem alegrias excessivas. Uma das raparigas interroga-se: “Inscrever na faculdade... Para quê?”
O meu lado maternal podia entrar em acção e contar-lhes como a vida é dura e tal, como o mercado de trabalho é cada vez mais árduo e a importância extrema de uma formação digna desse nome. Podia, mas fiquei calada. Um dos rapazes apanhou um livro que deixei cair, sorri, agradecendo. “Vida de estudante...”, comento, pegando em mais livros para abandonar a mesa do café.
Ficaram a olhar para mim, a ver-me ir à vidinha. Terão ficado a pensar que já não tenho idade para estas andanças e eu a pensar que não sabem a sorte que têm. Podem ainda desfrutar deste tempo. Muitos dos novos universitários terão o entusiasmo que faltava a estes com quem me cruzei. E terão trabalhado muito para chegar a este momento de inscrições. Ainda bem. Conheço adolescentes que roeram unhas à espera da nota dos exames nacionais, que fizeram melhoria de nota, que querem muito – com empenho e compromisso – estudar, fazer uma licenciatura e a seguir mestrado (muitos sabem que não irão a lado algum somente com uma licenciatura). É o tempo deles, de se prepararem, de perceber que o futuro se constrói com estratégia e que tomar decisões nesse sentido é o maior acto de inteligência que existe.
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