Então, parece que está tudo revoltado com a greve do Metro de Lisboa durante os dias da Web Summit, onde vão rumar cerca de 70 mil pessoas. Parece-me que as pessoas que refilam com as greves são as mesmas que refilam com a vinda da Web Summit para Portugal e com a sua permanência por cá.

Parece-me incoerente, já que a greve poderá trazer uma má experiência aos milhares de pessoas que rumam à Meca das startups e isso poderá fazer com que Portugal fique mal visto e a Web Summit rume a outro país o mais depressa possível. Esta gente que se indigna com tudo perde, assim, uma excelente oportunidade de ganhar aliados nas causas que acarinham sem saberem muito bem o porquê.

Por princípio, não critico quem faz greves. É sempre bom ver uma classe de trabalhadores, seja ela qual for, a unir-se e lutar por aquilo que acha justo, mesmo que de fora nos possam parecer reivindicações infundadas. Claro que há quem exija coisas que não fazem sentido, mas o direito à greve foi conquistado com muita luta e acho que deve ser valorizado.

Depois há uma coisa que as pessoas tendem a esquecer: a greve tem de fazer dói-dói para ser eficaz. Não adianta de muito um professor fazer greve a um domingo de madrugada. “Só fazem greve às sextas-feiras!”, dizem outros, como se nunca tivessem faltado para fazer ponte e entregado um falso atestado que um amigo médico lhes passou. Toda a gente sabe que mais vale juntar a greve com o fim de semana porque uma paragem a meio da semana prejudica a produtividade.

Por isso, se a greve é para fazer comichão, faz todo o sentido que seja durante a Web Summit, embora seja apenas das 06:00 as 09:30 e não se passe nada de interessante na cimeira tecnológica antes das 10h. Por isso, as pessoas andam a indignar-se sem razão, mas pronto.

No entanto, acho que esta greve perde uma excelente oportunidade de apanhar a onda das startups e peca no marketing, sendo inteligente mudarem o nome de Greve para Grevify ou iGreve, para ser mais catchy e os estrangeiros perceberem.

Olha que… agora que penso nisso, está aqui qualquer coisa. Já deixei o mundo das startups, mas dou-vos esta ideia milionária de borla. Uma app para gerir greves! Os sindicatos teriam acesso a todos os perfis e saberiam quem ia aderir à greve ou furá-la – apesar de nestas coisas poder acontecer como nos eventos de Facebook a que toda a gente diz que vai e depois ninguém aparece. Poderia existir uma espécie de gamificação, e quantas mais greves fizesses mais pontos ganhavas, criando assim uma competição saudável no mundo das greves; poderia, ainda, haver uma espécie de ranking para um campeonato Inter-Greves, em que as diferentes profissões competiriam pelo troféu de melhores grevistas. Penso que seria uma final renhida entre Metro e Professores. Aliás, os trabalhadores do Metro de Lisboa e os professores podiam já vir com dias de greve negociados no contrato. Vinte e dois dias de férias e dez dias de greve, para usar com cuidado e aproveitar as pontes e feriados.

Em dias normais, o Metro de Lisboa já parece estar muitas vezes em greve, por isso nem se deve notar muito. As pessoas adoram revoltar-se contra os políticos, mas quando há greve decidem fazer fogo amigável e apontar as armas a quem está a tentar lutar por melhores condições de trabalho, em vez de refilarem com os políticos. Ainda se fossem os deputados a fazer greve, compreendia a indignação, até porque para fazer greve é preciso trabalhar e não pintar as unhas e jogar Candy Crush.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Para rir: Evento solidário de stand-up comedy em Lisboa, dia 9 de novembro. Informações aqui.

Para ver: The Invitation, na Netflix.

Para comer: O Templo, em Évora.