Escrevo recorrentemente sobre o assunto, já participei em conferências sobre isso, e até o meu próximo espectáculo vai ter uma boa parte sobre a questão da identidade de género, tudo para comer gajas, porque elas passam-se com um homem que (finge que) acredita realmente na igualdade de género e na importância do reconhecimento de direitos iguais para toda a gente no mundo, independentemente do seu género, tom de pele, orientação sexual ou qualquer outra característica.
Até agora, tem resultado. Eu mal posso andar na rua sossegado porque é ver mulheres e homens gay - porque eu também finjo que defendo os direitos LGBT - a vir a correr de todos os lados, completamente doidas para me afogar nos seus seios e vaginas sedentas de igualdade de direitos. Isto tudo porque comecei a pensar: “Bem, acho que não me chega ser este pedacinho de céu que já sou. Se eu fingir que acredito convictamente que as mulheres em nada são inferiores aos homens, isto é capaz de atrair gataria que nunca mais acaba, até porque me vou diferenciar (só a fingir, claro) de tantos e tantos homens portugueses que ainda são machistas (mesmo que em diferentes níveis de machismo) e, com um bocadinho de sorte, até passo por um gajo que usa o cérebro.
E assim tem sido, mas chegou a altura de assumir que sou uma farsa. É claro que eu não acho que as mulheres devem ter as mesmas oportunidades de trabalho, não devem receber o mesmo que os homens, porque são claramente menos capacitadas, e não vejo mal nenhum em que sejam assediadas sexualmente, tanto na rua como no trabalho, principalmente se andarem de mini-saia. Até é essencialmente para isto que elas servem, não é, rapazes?
Aproveito o balanço desta crónica para assumir o resto da farsa que eu sou. Adoro touradas, acho um espectáculo lindo e a superioridade do Homem (sim, Homem, não humanidade) tem de ser provada ao se torturar animais touros e cavalos. Sou contra o acolhimento de refugiados, é deixá-los afogarem-se todos no Mediterrâneo porque tudo o que é muçulmano é terrorista. Sou contra os direitos LGBT - ser gay, lésbica, trans, bi, seja o que for, é anti-natural, anti-cristo e não merece quaisquer direitos. No geral, tudo aquilo que até aqui achavam que sabiam sobre mim e aquilo que achavam que eu defendo é o oposto.
A verdade, e como várias pessoas – e bem! – me acusam, é que tenho andado só atrás do politicamente correcto para comer gajas e ganhar likes. O politicamente correcto é achar que todos os seres humanos merecem os mesmos direitos, oportunidades e dignidade de vida? Então não contem mais comigo para isso. Viva a superioridade do homem branco! Bem, agora vou masturbar-me com a mão esquerda enquanto uso a direita para fazer a saudação nazi. Bom resto de domingo, e muito obrigado às pessoas que me têm feito perguntas tão pertinentes e inteligentes como a que originou esta crónica.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Sex & Love: série documental sobre o sexo no mundo. Muito bonita, educativa e importante. Chorei em vários episódios.
- Sex Education: série de ficção com muita graça e também muito pertinente.
- Lugar Estranho: entretanto os bilhetes para o meu solo de stand-up para Lisboa e Porto continuam aí a saltar. Anuncio em breve as datas da tour pelo país.
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