Os belgas votaram em eleições municipais, de que resultou uma maré verde e até uma onda vermelha. Os ecologistas são os indiscutíveis ganhadores, como o partido que mais cresce e que entra para o pódio das preferências, com Bruxelas como principal exemplo: os eleitores da capital deram 17% dos votos ao partido ecologista Ecolo-Groen, que se impõe como parceiro dos socialistas para governar a cidade. Na Valónia, a Bélgica francófona, forte subida da esquerda radical (16% dos votos em Charleroi, 17% em Liège), à custa do voto tradicional nos socialistas, que caem de 32 para 25%. Na Bélgica flamenga é a direita quem se consolida, com os extremistas Vlaams Belang a celebrarem com saudação nazi os 40% alcançados em Ninove, cidade com 38 mil habitantes, 25 quilómetros para leste de Bruxelas. A sete meses de eleições legislativas e também das europeias, os belgas mostram evidente vontade de mudanças políticas, com os partidos tradicionais a aparecerem castigados.
A vontade de mudança também ficou plebiscitada nas eleições estaduais na Baviera. O partido social-cristão CSU, construído conforme a personalidade forte de Franz-Josef Strauss e, depois, de Wolfgang Schaeuble, é hegemónico há seis décadas neste estado com 13 milhões de pessoas que vivem na Alemanha mais rica, vanguarda tecnológica e bastião da direita católica. Agora, a CSU continuou como maior partido, mas a vitória é amarga porque perde a maioria absoluta de quase sempre e cai 11 pontos percentuais, de 48 para 37%. Ainda mais estrondosa a quebra dos social-democratas SPD, que perdem mais de metade do eleitorado e desabam de 21,6% para 9,7%.
Os social-democratas alemães, sob estandarte do SPD, são mesmo ultrapassados na Baviera pela extrema-direita AfD que nas anteriores eleições, há cinco anos, nem concorreu e que agora recolhe 10,2%.
A crise dos partidos que no centro da Europa fizeram crescer a Internacional Socialista é evidente. Nas eleições no ano passado em França, os socialistas, antes maioritários (presidência Hollande, governo Valls) quase desapareceram do mapa político. Em Itália já tinham desaparecido. Perderam muito no outono de 2017 nas eleições gerais alemãs, e ainda mais, agora, na Baviera. Resistem nos países escandinavos e na Península Ibérica.
Mas a quebra dos socialistas não beneficia os partidos tradicionais no espaço conservador e liberal à direita. Em países onde a economia segue sem grandes problemas, onde o desemprego é baixo e o sistema de assistência social funciona razoavelmente, o fator novo é a presença de migrantes que não aparecem como imediata oferta tranquila de mão de obra. Os refugiados políticos e económicos irrompem como um problema, nalguns casos dramatizado, que gera reações xenófobas, racistas e anti-europeias. É assim que a direita-radical AfD cresceu na Alemanha ao ponto de ter hoje 92 deputados entre os 709 no parlamento alemão.
A extrema-direita foi, na Alemanha, o primeiro partido a captar o voto de descontentamento e de protesto. Agora, na Baviera, irrompe a alternativa verde: 18% para o partido Grune, que dobra a percentagem de votação de há cinco anos. Os verdes alemães tinham sido fortes nos anos 70 e 80. Depois, foram absorvidos pelos partidos tradicionais, em especial o SPD, e pereceram em ocaso.
Os verdes recuperam agora a força propulsiva na Baviera, com grande mérito para a líder, Katharina Schulze que, aos 33 anos, capta não só voto jovem como muito da esquerda e que se fartou das ambiguidades do SPD. Sabem conciliar europeísmo, pragmatismo, sociedade aberta e segurança – mas sem recurso às opções soberanistas.
O discurso dos verdes é oposto ao da extrema-direita: trata a questão dos migrantes com grande abertura e foco em medidas de acolhimento com integração acompanhada. A carta política dos verdes alemães tem propostas concretas para proteção da biodiversidade, dos oceanos, para o combate às alterações climáticas e para a qualidade na habitação digna para todos. Cuidam soluções concretas para problemas em relação aos quais os partidos tradicionais continuam vagos. Tratam questões que se tornaram preocupação das pessoas.
Na Baviera, o voto em forças alternativas rondou os 28%: 18% nos verdes, 10% na extrema-direita. Os verdes contiveram o peso do voto populista anti-Europa, anti-Euro, anti-migrantes.
O voto deste domingo na Baviera e na Bélgica deixa clara, a sete meses das eleições europeias, uma grande vontade de mudança no modo de condução política. O alerta é vermelho para os partidos tradicionais.
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