Em vésperas de Natal parece que a violação dos direitos humanos custa mais, mas é ridículo e infantil pensar que a época de festas pode tornar o ser humano melhor. Vem isto a propósito do anúncio feito pela ministra da Integração, Imigração e Alojamento dinamarquesa: os estrangeiros condenados por crimes e migrantes cujo pedido de asilo tenha sido rejeitado irão para uma ilha ao largo da Dinamarca. Não são desejados, portanto serão encurralados numa ilha cuja principal actividade até ao momento tem sido a pesquisa de doenças contagiosas em animais (pormenor: o ferry que faz os três quilómetros até ao continente foi baptizado com o nome "Vírus").
O objectivo é reter, num único espaço imigrantes com cadastro, refugiados que se recusem a ser deportados e fazer-lhes a vida negra de forma a que possam escolher desistir de viver na Dinamarca. Pasmados? Eu também. Não é só mais uma construção de um gueto, real, é o discurso, é este desgosto de repetirmos os mesmos erros.
A conversa de que os países nórdicos nos dão dez a zero em educação e civismo? Pelos vistos, teremos de rever esse discurso. A xenofobia, a discriminação, o racismo imperam e imperam com cada vez mais força. A Dinamarca junta-se a outros países nesta conversa de isolar os "indesejados" e junta-se a uma série de acontecimentos históricos reprováveis. Não terão pensado nisso assim? Pelos vistos não.
Se é compreensível que as pessoas queiram viver bem e dentro das normas ditadas pela lei, a verdade é que acolher os outros é um gesto de partilha que contribui para o bem estar de todos em geral. As medidas populistas são assustadoras. Não importa a fachada de "nice people", não se deixem enganar pelas luzes natalícias ou pelas canções mais suaves, o ser humano possui um espectro emocional que está predisposto à maldade.
Num mundo em que podemos ser o que quisermos, por que carga de água é que não escolhemos ser bons? Como escreveu Shakespeare: algo vai mal no reino da Dinamarca. E algo vai muito mal quando estas notícias e políticas públicas são entendidas com indiferença. Afinal, com o mal dos outros podemos nós bem, não diz o ditado?
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