Durante este mês, a verdade é que a buliçosa capital quase que se torna bucólica, pastoril. A diáspora lisboeta traz à cidade e aos seus habitantes que, astutos, optaram por não marcar férias na mesma altura em que toda a gente o faz, uma paz mais do que merecida.
Lisboa encontra-se deserta de Lisboetas. Os boletins de trânsito da rádio são odes ao sossego. Circula-se na segunda circular, o Norte-Sul entra nos eixos e a Avenida da Liberdade não é um presídio. Os bares não estão cheios das mesmas caras e, nos spots da moda, cultiva-se hoje o “não ver e não ser visto”. Regressar da Costa da Caparica deixa de ser a epopeia que se desenrola nos dantescos meses de calor em que a malta não está de férias noutro sítio qualquer. Há turistas, há. Mas o turismo traz dinamismo, o lisboetismo traz imobilidade. Se Sartre conduzisse por aqui, diria que o Inferno são os lisboetas. Por tudo isso, Lisboa em Agosto é um descanso. É o mês em que a cidade alcança a repouso físico, pelo qual já andara a suplicar desde o esgotamento nervoso que sofreu em Junho, com os Santos Populares.
Eu sou lisboeta e não me demarco de responsabilidades, pois também torno esta cidade insuportável. Desta vez fiquei eu cá em Agosto, mas proponho a criação de um sistema rotativo de purga temporária de lisboetas da cidade. Eu arrancava em Abril, o leitor desopilava em Dezembro, todos tínhamos de desocupar um mês esta cidade para aliviarmos os passeios e calarmos as buzinas, para que se democratizasse o acesso à serenidade na capital.
Os lisboetas povoam agressivamente Lisboa durante o ano todo. Vem Agosto e, numa espécie de Dunquerque invertida, resgata Lisboa do inimigo lisboeta. Contudo, o lisboeta, de um modo geral revivalista, não vai de férias, coloniza outros locais do país. Cria Novas Lisboas, como Vilamoura, para continuar a lisboar, a ver as mesmas fronhas que vê ao fim-de-semana por aqui, para poder apitar no trânsito como se estivesse na Rotunda do Relógio a uma segunda-feira de Novembro. Felizmente deixa a sua metrópole sem guarnição, para que os que cá ficam possam deambular por uma Almirante Reis deserta, uma Avenida da República pacífica, um Campo Grande rural. Quem trabalha em Agosto tem, pelo menos, férias de gente.
Recomendações
Amanhã é feriado e terça-feira, portanto se precisarem de um telemóvel de 1995 ou cromos de futebol do tempo em que não havia videoárbitro, é ir à Feira da Ladra.
Um resumo do The New York Times para entender o que se está a passar em Charlottesville.
The Kingsman é um bom filme de espiões para ver depois da praia.
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