Os aspirantes a parceiros governamentais na Alemanha deram-se, portanto, três meses para negociações para que nada fique fora do acordo e possa ameaçar a estabilidade da aliança em formação.
A perda de peso dos antigos grandes partidos da Europa e a fragmentação dos parlamentos introduz nova complexidade no sistema político do continente.
Nos Países Baixos, a negociação da coligação governamental prolonga-se há já 236 dias. Está a ser um processo negocial que envolve os quatro partidos do anterior Governo, agora em gestão: VVD (centro-direita, liderado por Mark Rutte, chefe de governo desde 2011), D66 (centro-esquerda), CDA (democratas cristãos, centristas) e CU (direita conservadora). Os 236 dias que leva esta renegociação do acordo para governar em Haia estão longe do recorde belga de 541 dias sem governo plenamente investido.
Em Espanha, o Governo central formado por PSOE e Unidas Podemos é sustentado no parlamento por complexas negociações com diferentes partidos autonómicos. Com alguns, o compromisso fica-se pela abstenção que viabiliza diplomas do executivo.
Em Itália, os partidos ajoelharam-se perante o primeiro-ministro Super Mario (Draghi), que governa em modelo de unidade nacional, apesar de algumas dissonâncias pouco relevantes.
Na Finlândia, o Governo presidido pela social-democrata Sanna Marin é uma coligação com leque muito aberto que envolve cinco partidos: para alem da social-democracia SPD, o Partido do Centro, a Liga Verde e o conservador Partido Popular. Esta aliança de cinco partidos, que é sustentada por 117 dos 200 deputados no parlamento de Helsínquia, leva a um Governo com 19 ministros e escassa igualdade de género: 12 do total de 19 são mulheres.
Neste século XXI na Europa, a fragmentação partidária está a impor governos de coligação formados por grupos muito diferentes.
Os governos dos 16 Estados-Regiões Federais na Alemanha foram pioneiros na opção por esse modelo de coligações entre partidos com programas muito diferentes. Em nove desses 16 estados-Regiões Federais, o Governo passa ou por coligação de bloco central ou aliança de pelo menos três partidos. Com uma constante: barreira sempre ao partido AfD, de extrema-direita.
A mesma linha está a ser seguida pela social-democracia escandinava que lidera os governos da Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia. Governam com apoio preferencial de verdes e liberais, mas há extensões a outros partidos moderados e até conservadores. No caso da Suécia, é muito forte o papel dos sindicatos que promovem o consenso social que é articulado com a pluralidade política.
Por toda a parte os velhos partidos centrais estão a discutir como recuperar o espaço eleitoral perdido. Há uma conclusão transversal: falta-lhes escutar mais os eleitores, procurar o acordo social e o consenso político.
Estes atributos têm sido bem muito escasso em Portugal, onde prevalece a autoridade dos chefes dos aparelhos partidários e é insignificante o encontro com os cidadãos. Doses irracionais de antipatias e ódios pessoais constituem-se em muro contra entendimentos entre diferentes partidos.
Para que não entremos em Portugal em época de sucessivos bloqueios eleitorais e eleições repetidas (aconteceu em 2019 em Espanha), vai ser necessária uma nova cultura de negociação aprofundada e abertura a compromissos.
Está a ser assim em toda a Europa.
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