Nas escolas, todos os dias as crianças cantam o hino e rezam antes da primeira aula, o lanche é sandes de hóstia com um copinho de água benta. Os TPC tanto são estudar o ciclo da água (agora lecionado em História) como fazer um ditado de uma passagem da Bíblia, ditado mesmo por Deus. Se Deus não aparecer nessa noite, a sua falta de ubiquidade é tanto falta de fé da criança como falta de trabalho na sua caderneta, porque Deus pode ser tudo, mas culpado não.
Nas aulas de Família e Tradição, as crianças aprendem cedo que o homossexualismo é uma doença, não só grave como transmissível e são incentivadas a denunciar casos de colegas rapazes que não queiram jogar futebol (ou ficar só a comentar, para que um dia possam exercer numa televisão qualquer) ou raparigas que vistam alguma peça de roupa que não seja cor-de-rosa. A ideologia de género, tão apregoada pela esquerdalha progressista do marxismo cultural, já foi há muito erradicada com as suas bárbaras ideias da multiplicidade de géneros e orientações sexuais. As doenças tratam-se, não se aceitam, e daí também a proibição do casamento homossexual, já há largos anos. Felizmente este foi um caminho educacional relativamente fácil uma vez que com o fim do ensino público e a privatização de todas as escolas, já só com algumas crianças de elite ainda continuaram a estudar. A maioria está confinada ao fosso económico do qual as suas famílias só não saem porque não trabalham o suficiente, como é evidente. A meritocracia não é para quem quer, é para quem pode.
E por falar em doenças, a privatização de toda as áreas da saúde também tem permitido um aproximar rápido da sociedade ideal. Os pobres morrem cada vez mais cedo, sendo que felizmente muitos chegam a nem se conseguir reproduzir. Só fica quem importa. Com um empurrãozinho na economia, não há nada que Darwin não resolva.
Ainda na área da saúde, com a proibição do aborto, milhares de mulheres têm morrido ao tentarem abortar em clínicas clandestinas. As que ficam para ver aprendem a lição. Sobre as que morrem, não se pode dizer que não seja bem feito. Se Deus gerou vida através do macho que a emprenhou, não será com certeza a mulher quem decidirá se a trará ao mundo ou não. Só a Deus cabe tal decisão. Ou ao autocrata vigente, que nestes Estados é quase a mesma coisa.
Entretanto, a Lei da Paridade foi anulada e mais de 97% dos cargos de poder continuam a ser ocupados por homens. Se ao fim de tantos anos ainda é assim é porque de facto as mulheres não conseguem melhor, dando razão ao que já tanta gente dizia há décadas.
Na Justiça, os cargos mais altos estão todos ocupados por afiliados do Chega e Neto de Moura Jr. é o Ministro da pasta (estando ainda por averiguar se é realmente filho do Neto de Moura ou é bastardo). Na imprensa, jornalistas têm sido presos às dezenas por fabricarem fake news, e a CMTV ocupa agora os primeiros quatros canais da grelha, sendo os únicos grátis para o povo.
Os pedófilos condenados foram castrados quimicamente (alguns fisicamente para cortar custos) e já quase não há pedofilia em Portugal. A não ser os casos que continuam a ser encobertos pela Igreja Católica, mas na Igreja não se mexe.
Os muçulmanos, hindus e africanos (e é para não ser politicamente incorreto e dizer só monhés e pretos) foram todos fazer kebabs, caril e muamba para a terra deles. Os poucos ciganos que restam em Portugal agora todos trabalham. Na prisão, mas trabalham. Assim como todos os presos, de qualquer tipo de crime, e sem que recebam um cêntimo por isso. A prisão é para castigar, não é para reeducar. E como já dizia o grande: “o trabalho libertar-te-á”. Por isso, eles que nem se queixem.
A sociedade roça assim a perfeição. Os valores cristãos e da família tradicional branca reinam, o homem labuta e a mulher cozinha. A liberdade de expressão é parca, mas povo alimentado também não precisa de opinião. Quem votou Chega em 2019 vive feliz com a sua escolha. Mesmo que não viva, não o pode dizer. Ou votar noutro. O que há então a fazer? “É lidar”, que é a única resposta que os fachos davam a qualquer questão ou irritação de outros em 2019.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Povo vs Democracia: Livro incrível (e assustador) de Yascha Mounk, sobre a ascensão do populismo de esquerda e de direita no mundo inteiro.
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