
"O Papa Francisco dizia que a política era uma das formas mais nobres de caridade, porque a política é estar ao serviço de todos, estar ao serviço do bem comum", explicou ao SAPO24 o padre Ricardo Figueiredo, diretor de comunicação do Patriarcado de Lisboa.
Nas suas intervenções, o Papa reforçou, entre vários temas, a necessidade de olhar para os imigrantes, que precisam de ser recebidos com boas leis, para que possam ser devidamente acompanhados.
Francisco destacou que, na atualidade, "há muitos homens, mulheres e crianças, marcados por tantas formas de pobreza e de violência, que esperam encontrar no seu caminho mãos estendidas e corações acolhedores".
Para D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa, esta atitude do Papa é a de um homem que nunca condenou "quem quer que seja, nunca condenou a humanidade".
"Nunca disse que o mundo estava perdido, nunca disse que os homens são uma desgraça. O Papa Francisco sempre se referiu ao ser humano em tons de otimismo, em tons de esperança, em tons de confiança. E, por isso mesmo, o Papa Francisco constituía cada homem e cada mulher como um destinatário da sua mensagem, mas, sobretudo, como um companheiro de caminho, como um companheiro de peregrinação", disse ao SAPO24.
Num convite para agir, o Papa fez também numerosos apelos à comunidade internacional para que acolha os migrantes e refugiados que fogem dos seus países em conflito, fazendo uma dura crítica àqueles que fomentam o medo dos imigrantes, por vezes com fins políticos e criam apenas racismo e violência.
"Quando ainda ninguém falava na crise dos migrantes, o Papa Francisco tem aquele gesto grandioso, tremendo, magnânimo, de ir a Lampedusa — ainda está na memória de todos vê-lo a lançar a coroa de flores, homenageando todas aquelas vidas que se perderam ali", reforça o padre Ricardo Figueiredo, que aponta a prioridade de "colocar a dignidade da vida humana no centro daquilo que é o debate político".
"O Papa o conseguiu colocar isso na ordem do dia, basta pensarmos todas as reações políticas depois da ida a Lampedusa: foi ver todos os políticos em procissão, atrás daquilo que o Papa Francisco disse e deste gesto", frisa, garantindo que "rezar é sempre agir".
Para o diretor de comunicação do Patriarcado de Lisboa, o pontífice "colocou sempre este rezar de olhos abertos" a par "com gestos concretos", junto "a oração a esta ação".
"Basta pensar como ele transformou o rito de lava-pés de Quinta-feira Santa fazendo-o sempre nas prisões, para mostrar que aqueles homens e aquelas mulheres são lavados por esta água, para mostrar que têm um futuro".
Já no que diz respeito à mediação de conflitos, Francisco teve também um importante papel, mais recentemente com apelos para o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
"O tema da guerra, infelizmente, percorreu o pontificado. Como ele disse várias vezes, estamos a ver uma terceira guerra mundial aos pedaços", com a guerra da Ucrânia e a guerra na Terra Santa.
"Basta pensar no início da guerra da Ucrânia, em que ele vai logo de seguida à embaixada da Rússia, portanto, com gestos concretos, com sinais concretos", recorda.
E os apelos foram mesmo até ao fim. "É sobretudo tocante perceber que ele deu mesmo tudo pela paz, quando no testamento que o Papa escreveu, a 29 de junho de 2022, portanto, com estas guerras a começarem, e o Papa Francisco diz, já naquela altura, que oferecia todos os sofrimentos que fossem passados a Deus, pela paz no mundo".
"A paz, para o Papa Francisco, não era uma ideia: era algo que fazia com que ele desse toda a vida e, portanto, sabemos que ele agora do céu continua a interceder e que este momento da partida do Papa Francisco era um momento excelente para que os governantes fossem tocados por este exemplo e fossem construtores da paz", remata o padre Ricardo Figueiredo.
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