As bancadas da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) trocaram acusações nos discursos de abertura das reuniões plenárias da Assembleia da República, após a habitual pausa de dezembro.

"Lamentamos, porém, que a meio das dificuldades vividas pelos nossos concidadãos, provocadas pelas calamidades naturais, no lugar de apoiar, ajudar e prestar solidariedade, perante o infortúnio, tenham aparecido certos políticos com discursos demagógicos, com o intuito de dividir para reinar e colher louros", disse o deputado e chefe da bancada da Frelimo, Sérgio Pantie.

Pantie acusou políticos da oposição de insensibilidade, ao, supostamente, aproveitarem-se das inundações para criticarem o executivo, ao invés de promoverem movimentos de solidariedade.

A bancada maioritária defendeu a proibição de construção de habitações em áreas expostas a desastres naturais, através da implementação de planos de ordenamento territorial.

Por seu turno, a Renamo, principal bancada da oposição, acusou as autoridades de "masoquismo" por alegadamente permitirem que elites ligadas à Frelimo beneficiem com as ajudas anualmente canalizadas às vítimas das calamidades naturais.

"A mãe natureza, mais uma vez, fez das suas, perante a inércia e, quiçá, a cumplicidade dos sanguessugas que vivem das doações internacionais, autênticos masoquistas que ficam à espera da desgraça alheia para suportarem os seus apetites insaciáveis", declarou Viana Magalhães, chefe do grupo parlamentar do principal partido da oposição.

Magalhães referiu que as autoridades apresentam anualmente as mesmas necessidades materiais, como barcos e tendas, porque estes equipamentos são desviados para fins alheios à ajuda humanitária.

"Não se constroem infraestruturas, tal como barreiras e edifícios resilientes", porque as calamidades naturais constituem uma "oportunidade para que a habitual máquina de corrupção entre em cena", afirmou o chefe da bancada da Renamo.

O deputado e chefe da bancada do MDM, Lutero Simango, acusou o Governo de incapacidade na prevenção e mitigação de calamidades naturais, assinalando que o país vive ciclicamente entre o paradoxo de cheias e secas.

"Há que reconhecer a incapacidade do Governo do dia na gestão e conservação das águas no nosso país", declarou Simango.

O país, prosseguiu, precisa de soluções estruturais e combinadas de planeamento físico e territorial.

Na sequência das inundações que afetam o país, com mais severidade no sul, a presidente do parlamento moçambicano, Esperança Bias, anunciou que cada um dos 250 deputados do órgão vai descontar um dia de salário para o apoio às vítimas das intempéries.

Na terça-feira, o Conselho de Ministros moçambicano decretou o estado de alerta vermelho para acudir com maior agilidade às cheias que estão a afetar o país.

A atual época chuvosa (de outubro a abril) já fez 95 mortes e causou prejuízos a cerca de 100.000 pessoas, segundo os últimos dados oficiais.

 

PMA (LFO) // VM

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