Desde que voltou à Casa Branca em janeiro, o magnata republicano lançou uma guerra comercial contra aliados e rivais que abalou a economia mundial. A China levou o pior, com tarifas adicionais de 145% para seus produtos, e respondeu com sobretaxas de 125%.

No meio do terramoto, Trump manteve-se otimista esta quarta ao publicar nas redes sociais que houve um "progresso importante" nas conversas que mantém com o Japão sobre um acordo comercial para moderar suas tarifas.

Após as primeiras discussões, nas quais o próprio Trump participou, o enviado japonês a Washington disse que os Estados Unidos querem alcançar um acordo nos próximos 90 dias.

Pouco depois, o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, afirmou que o diálogo com Washington "não será fácil", mas que Trump "expressou o seu desejo de lhe dar máxima prioridade".

Trump está confiante de que a sua estratégia, que pretende fazer com que as tarifas levem a acordos com vários países, reduza as barreiras aos produtos americanos e desloque a produção manufatureira mundial para os Estados Unidos.

Contudo, a queda da ponte entre Washington e Pequim, o seu principal rival económico, acentua-se e, com isso, a preocupação de uma perturbação generalizada.

O presidente da Reserva Federal (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, advertiu nesta quarta que é "muito provável" que as tarifas de Trump provoquem um aumento temporário dos preços nos Estados Unidos, cujos efeitos "poderiam ser mais persistentes".

Também ressaltou a "volatilidade" que assola os mercados num "momento de muita incerteza".

Tal instabilidade ficou palpável  em Wall Street, onde o índice tecnológico Nasdaq chegou a cair mais de 4%, o ampliado S&P, mais de 3%, e o Dow Jones Industrial, mais de 2%.

No topo das baixas ficou a gigante de semicondutores Nvidia, que chegou a recuar momentaneamente mais de 10% após revelar que as novas restrições americanas à exportação de chips impostas como parte da disputa de Trump com a China lhe vão custar milhares de milhões.

O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, também fez eco de Powell e alertou que "a incerteza e a volatilidade estão a contribuir sem dúvida para um ambiente económico e empresarial mais cauteloso".

"Deixar de ameaçar"

Enquanto o resto do mundo obteve por agora uma tarifa universal de 10%, a China instou os Estados Unidos nesta quarta a "deixarem de ameaçar e chantagear", depois de a Casa Branca ter transferido para Pequim a responsabilidade de iniciar uma negociação.

"Não há vencedor numa guerra tarifária ou numa guerra comercial", disse Lin Jian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. "A China não quer lutar, mas não tem medo de lutar."

Apesar desta disputa, a economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre. O resultado, melhor que o esperado, ainda não reflete os efeitos da escalada tarifária lançada em abril.

Mas Heron Lim, da Moody's Analytics, disse à AFP que o impacto será sentido no segundo trimestre, quando as tarifas começarem a "impedir as exportações chinesas e a reduzir o investimento".

A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, considera que a incerteza provocada pelas tarifas americanas "ameaça desacelerar o crescimento mundial, com graves consequências negativas para o mundo e, em particular, para as economias mais vulneráveis".

Segundo as previsões anuais da OMC, o comércio mundial de mercadorias pode sofrer quedas de volume de até 1,5% em 2025.

Símbolo do impacto para o público, a plataforma chinesa de comércio on-line Shein anunciou aos seus clientes que aumentará os preços a partir de 25 de abril "por causa das mudanças recentes nas regras de comércio mundial e sobre as tarifas".

Japão, caso de teste?

Depois do Japão, são esperadas em Washington as delegações de Coreia do Sul e Indonésia.

A Coreia do Sul, um dos principais exportadores de semicondutores e automóveis, informou que o seu ministro das Finanças, Choi Sang Mok, reunir-se-á na próxima semana com o secretário do Tesouro Scott Bessent.

Para Stephen Innes, da SPI Asset Management, as conversas com o Japão funcionarão como um "sinal de alerta".

"Se o Japão chegar a um acordo, mesmo que seja mediano, o modelo estará pronto. Se saírem com as mãos vazias, preparem-se. Outras nações começarão a cobrar um preço pelo confronto, não pela cooperação", escreveu ele em um boletim.

Embora seja popular entre os republicanos, a guerra tarifária é politicamente arriscada para Trump no âmbito doméstico.

O governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, anunciou que entrará com uma nova ação judicial contra a "autoridade de Trump para promulgar tarifas unilateralmente, que criaram caos económico, fizeram os preços disparar e prejudicaram o Estado, as famílias e as empresas".