Os fertilizantes "permanecem bloqueados principalmente nos armazéns da Letónia (80%), assim como na Estónia, Bélgica e Países Baixos, cujas autoridades não permitem o seu envio através do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU", denunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
Num comunicado citado pela agência oficial russa TASS, o ministério de Serguei Lavrov disse que, além dos fertilizantes, as empresas russas não podem transferir, "sem custos", cerca de 300.000 toneladas de produtos "para os países mais pobres".
"Os americanos e europeus estão a punir os países de África, Ásia e América Latina", acusou a diplomacia de Moscovo.
O ministério disse que a Rússia "é um dos principais exportadores mundiais de fertilizantes", sem os quais as populações dos países pobres "correrão o risco de morrer à fome".
A guerra na Ucrânia, que a Rússia invadiu em 24 de fevereiro deste ano, causou perturbações no abastecimento dos mercados internacionais de produtos agrícolas, fazendo subir os preços e recear uma situação de escassez alimentar.
Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, a Ucrânia e a Rússia forneciam, antes da guerra, 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
Em 22 de julho, os dois países assinaram acordos com a Turquia e a ONU para permitir o transporte de mais de 20 milhões de toneladas de cereais que estavam bloqueados nos portos ucranianos do Mar Negro.
O processo é controlado pelas partes envolvidas a partir de um Centro Conjunto de Coordenação (CCC) em Istambul, onde os navios são inspecionados.
Até 24 de outubro, realizaram-se 383 viagens a partir de portos ucranianos que permitiram transportar mais de 8,5 milhões de toneladas de cereais, de acordo com dados das Nações Unidas.
No comunicado citado pela TASS, o Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que o bloqueio dos produtos russos se deve às sanções ocidentais, "cujo efeito negativo deveria ser neutralizado" pelos acordos de Istambul.
A diplomacia russa denunciou também a acumulação artificial de "um grande número de navios" no porto de Istambul para pressionar os peritos russos e "enfraquecer o processo" de verificação da carga.
Referiu que em mais de 70 navios foram detetadas "violações sistemáticas relacionadas com o não cumprimento das regras de navegação no corredor marítimo e tentativas de contrabando".
"Tais abusos do corredor humanitário não devem ser ignorados, especialmente dada a investigação em curso sobre as rotas de entrega de explosivos para o ataque terrorista à ponte da Crimeia, em 08 de outubro", acrescentou.
Moscovo acusou os serviços secretos ucranianos de terem sido responsáveis pelo ataque que danificou a ponte que liga a Rússia à península da Crimeia, anexada em 2014, utilizando explosivos que circularam por vários países vizinhos.
A Ucrânia negou as acusações.
Numa informação de 24 de outubro, o CCC de Istambul disse que 113 navios estavam registados para inspeção no porto turco.
"O CCM está a discutir formas de resolver o atraso", disse o secretariado do centro, assegurado pela ONU.
O centro conjunto manifestou-se ainda preocupado que os atrasos "possam causar perturbações na cadeia de abastecimento e nas operações portuárias".
"A próxima colheita está a aproximar-se e os silos nos portos ucranianos cobertos pela Iniciativa estarão em breve novamente cheios", acrescentou.
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