"Ao longo destes últimos cinco anos, com o desenvolvimento político do país, houve de facto uma situação que não favoreceu a coesão dentro do partido", disse o secretário-geral do PD, António Conceição, em entrevista à Lusa.

"Hoje ultrapassámos a situação, temos esta coesão e estamos todos, a unir forças dentro do partido, apostando em recuperar as sete cadeiras que conseguimos em 2017", refere o deputado, um dos cinco do PD atualmente com assento parlamentar.

Antonio da Conceição admite que a divisão interna se centrou, em parte, na postura de um bloco que favorecia aproximação à Fretilin (o PD acabou por fazer parte do Governo minoritário liderado pela Fretilin que caiu em 2018), e de outro que queria manter os vinculos ao CNRT, de Xanana Gusmão, com quem o PD já esteve no Governo.

Nos últimos anos, apesar de estar em oposição, o PD votou variadas vezes ao lado da maioria do executivo.

Conceição sublinha que o PD se tem continuado a consolidar, aponta a um número "registado de responsáveis em toda a estrutura" de cerca de 32 mil, o que deixa antever "se tudo funcionar, 60 mil votos ou seis a sete cadeiras".

"Temos projeções otimistas, notando-se uma adesão muito maior da parte que não esperávamos, dos jovens, que estão a fazer um movimento muito especial em Díli e no resto do país, que querem a mudança desta situação política atual", vincou.

A força parlamentar do PD é crucial já que, em vários cenários, ajudou a viabilizar Governos, sendo considerado uma das forças do arco da governação no país.

O secretário-geral vinca as críticas ao atual executivo e insiste na fraqueza mostrada pela aliança que viabilizou o executivo e ao próprio primeiro-ministro.

"Tentámos nestes cinco anos dar apoio para normalizar a situação e continuar a governação. Contudo, o que se viu ao longo destes cinco anos, este Governo foi de facto uma coligação sem coesão, desde o início", afirmou.

"Depois faltou autoridade governativa, para dar força em termos da exposição do pais. Um exemplo foram os debates orçamentais em que só víamos o primeiro-ministro falar no arranque, sem nunca reafirmar os conceitos político para defender o seu próprio OGE. Quem era chamado era responder era o ministro das Finanças, que nem conseguia convencer as próprias bancadas do Governo", disse.

Conceição considera que o chefe do Governo, Taur Matan Ruak, não mostrou suficiente força para liderar de forma coesa os três partidos do Governo, com "programas de cada Ministério em vez do Governo", e "secretários de Estado com orçamentos maiores que os seus ministros".

Aponta ainda a "composição desproporcional", com o KHUNTO, terceira força do Governo, a ter mais lugares do que lhe competia, e a "influenciar mais o Governo, alastrando a doença aos outros dois partidos".

Por isso, antecipa, "os partidos no Governo vão ser penalizados e punidos pela política que desenvolveram nesta plataforma inesperada e desesperada, que tentaram usar para se engrandecer, para se mostrar ao povo".

Entre eles, em particular, considera que o PLP, do primeiro-ministro, será das três forças do executivo a mais penalizada.

Conceição refere-se às separações que subsistem entre os dois maiores partidos, Fretilin e CNRT, "com tentativas de separar, em vez de unir todos para edificar a nação", com o PD a continuar a procurar "abrir comunicações com o CNRT e com a Fretilin para ver como podemos contribuir".

O número dois do PD considera que esta divisão se cimentou por "não haver conceitos claros das lideranças para o desenvolvimento do país", por não ter sido dada continuidade a várias iniciativas, incluindo o Plano de Desenvolvimento Nacional, que considera não ter sido atualizado, sendo ainda "um plano de redução de pobreza" e não de verdadeiro desenvolvimento.

"Isso levou a situações onde havia mais política que desenvolvimento, em que se lutou para repor influências pessoais em vez de políticas de desenvolvimento, com ataques ao outro para se protegerem", afirmou.

A consequência, insiste, vê-se na agricultura quase parada do país, grandes dificuldades para o dia a dia de uma grande fatia da comunidade e o "êxodo de muitos emigrantes para outros países, mesmo que partam com promessas falsas".

A campanha para as legislativas de 21 de maio decorre até 18 de maio.

 

ASP // SF

 

Lusa/Fim