A última cimeira da Liga Árabe, que congrega 22 países, ocorreu em março de 2019, em Tunes, antes da pandemia, e a de Argel conta com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, que chega hoje à capital argelina e que, à margem dos trabalhos, terá vários encontros, dois deles com os presidentes da Argélia, Abdelmajid Tebboune, e da organização pan-árabe, Ahmed Aboul Gheit.
Nos três últimos anos, a Liga Árabe, historicamente apoiante da causa palestiniana, viu vários Estados membros a aproximarem-se de Israel: os Emirados Árabes Unidos normalizaram as relações em 2020 no âmbito dos Acordos de Abraão, negociados pelos Estados Unidos na era de Donald Trump, o mesmo sucedendo com o Bahrein, Marrocos e Sudão.
Esta reaproximação é tanto mais significativa no contexto da cimeira porquanto o anfitrião argelino é um feroz defensor dos palestinianos, tendo patrocinado em meados deste mês um acordo de reconciliação entre fações palestinianas rivais, embora a possibilidade de o pacto se materializar ser aparentemente mínima.
Também serão debatidas as profundas divergências no Saara Ocidental, que levaram Argel a romper as relações diplomáticas com Rabat em agosto de 2021.
Marrocos defende uma autonomia alargada para a antiga colónia espanhola enquanto a Frente Polisário, apoiada por Argel, exige um referendo de autodeterminação definido pelos acordos alcançados na ONU em 1991
Dissipadas ficaram as dúvidas quanto à presença na cimeira do rei Mohammed VI, de Marrocos, a convite de Argel, que procurava, embora simbolicamente, diminuir as tensões entre os dois países. No lugar do rei, está em Argel o ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Burita.
Se o conflito israelo-palestiniano e a situação na Síria, Líbia e Iémen estão na agenda da cimeira, os líderes árabes terão, porém, de se envolver em verdadeiras acrobacias diplomáticas na formulação das resoluções finais, que terão de ser aprovadas por unanimidade, para evitar ofender este ou aquele "peso pesado" da organização.
A cimeira, subordinada ao tema "A Unidade Árabe" conta com vários obstáculos face ao facto de alguns países, nomeadamente do Golfo, terem já indicado que não irão estar lá representados pelos respetivos chefes de Estado -- ausências da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein.
Em debate estará também a "onde de choque" da guerra na Europa, na sequência da invasão russa da Ucrânia, que está a provocar a escassez de cereais, uma inflação galopante e preocupações com as novas rotas energéticas.
António Guterres, além de, à margem da cimeira, ter encontros com Tebboune e com Aboul Gheit, fará uma intervenção na cerimónia de abertura do encontro, em que, segundo fontes das Nações Unidas, destacará a forte parceria entre a ONU e a Liga Árabe, enfatizando o papel "vital" das organizações para promover a paz, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos.
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