“Escrevemos uma carta ao senhor governador do Banco de Portugal e ao presidente do Fundo de Resolução para informar que, se formos convidados – que não fomos – vamos equacionar a tomada de uma participação no capital do Novo Banco”, disse à Lusa Paulo Marcos, presidente do SNQTB.
“O mais importante é que haja uma decisão rápida sobre o futuro do Novo Banco. Depois, a nossa preferência vai para uma nacionalização temporária da instituição. Mas se a República Portuguesa não tem soberania nesta matéria para fazer o que foi feito no Reino Unido, na Suécia ou em Espanha, então admitimos tomar uma pequena participação no capital”, sublinhou.
O objetivo passa pela participação do SNQTB nos órgãos gerais de supervisão do Novo Banco, de forma a “envolver os trabalhadores” no destino da instituição, salientou Paulo Marcos.
Na segunda-feira, o Banco de Portugal anunciou ter selecionado o fundo norte-americano Lone Star para uma “fase definitiva de negociações, em condições de exclusividade, com vista à finalização dos termos em que poderá realizar-se a venda da participação do Fundo de Resolução no Novo Banco”.
Oficialmente, na corrida à compra do Novo Banco estava ainda o fundo norte-americano Apollo/Centerbridge.
“Face às notícias sobre o convite formulado pela Lone Star a vários investidores portugueses para se juntarem nesta aquisição, achamos que deviam também convidar os trabalhadores para participarem”, realçou o líder do SNQTB.
As cartas enviadas ao supervisor bancário e ao Fundo de Resolução há quatro dias ainda não tiveram resposta, mas Paulo Marcos acredita que vão ser analisadas e que vai haver uma resposta em breve.
“O envolvimento dos trabalhadores assegura um controlo sobre a gestão, garantindo que a Lone Star tem um projeto de longo prazo para o Novo Banco, tal como tem dito”, destacou, considerando que se este repto não for aceite pelo fundo norte-americano “fica sempre a dúvida sobre a existência de uma visão de longo prazo”.
E acrescentou: “Será que o objetivo é só comprar, maximizar, vender e partir para outra?”.
Paulo Marcos reconheceu que, como não se trata de uma privatização – dado o estatuto do Novo Banco -, “não há força da lei” para impor a venda de uma participação aos trabalhadores, mas vincou que esta hipótese é algo que vem acontecendo na Europa, apontando para o exemplo da Volkswagen, na Alemanha.
“Ainda não nos convidaram, mas, se o fizerem, vamos ouvir as condições e desafiar os outros sindicatos para também participarem”, salientou o dirigente sindical.
De resto, o SNQTB acredita que a Lone Star vai implementar no Novo Banco um projeto com base na manutenção do valor, no crescimento da atividade e na valorização dos seus trabalhadores, alertando para que a entidade “não está disponível para participar em projetos que, aproveitando a fragilidade negocial e a perda de autonomia financeira da República Portuguesa, redundem na destruição de valor ou na eliminação de postos de trabalho”.
Face aos últimos desenvolvimentos, Paulo Marcos referiu que “a Lone Star parece estar nos antípodas de um fundo abutre”, pelo que acredita que a entidade norte-americana só tem a ganhar com o envolvimento dos trabalhadores.
Paralelamente, sobre o lançamento de um programa de rescisões voluntárias e outro de reformas antecipadas que visam a saída de 350 trabalhadores do Novo Banco até junho, Paulo Marcos considerou que o mesmo reflete “os remédios negociados com Bruxelas”, destacando que a administração liderada por António Ramalho avançou com as rescisões por mútuo acordo que os sindicatos e a comissão de trabalhadores exigiam.
“É um processo diferente dos processos musculados de despedimento coletivo e rescisões nada amigáveis feitos pela outra gestão [liderada por Eduardo Stock da Cunha], que os fez com uma violência psíquica inaudita”, comentou.
O Novo Banco é o banco de transição que ficou com os ativos menos problemáticos do Banco Espírito Santo (BES), alvo de uma intervenção das autoridades em 03 de agosto de 2014, e que está em processo de venda.
Também na segunda-feira, em Bruxelas, o ministro das Finanças português, Mário Centeno, confirmou que a venda do Novo Banco está a evoluir e que a decisão do Banco de Portugal (BdP) de negociar exclusivamente com a Lone Star é “apenas mais um passo”.
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