O que me motivou para escrever o livro foi, em primeiro lugar, tentar entender as razões que fazem com que esta modalidade desportiva tenha um impacto tão grande nas sociedades a vários níveis: político, económico, financeiro etc.
Em segundo lugar, era um desafio entrar num mundo que se tem assumido mais como território de homens do que de mulheres, e onde me parece necessário que as mulheres também manifestem as suas opiniões.
Em terceiro lugar, motivou-me o facto de existir no futebol uma dimensão irracional, que nos escapa ao entendimento meramente lógico-dedutivo e nos obrigada a usar outro tipo de racionalidades; no meu caso, como a minha formação é jurídica e filosófica, confesso que a dimensão da transcendência, da religião e da fé me cativam nesta modalidade desportiva.
Uma quarta razão foi poder relacionar futebol, com filosofia e liderança foi um exercício que me permitiu olhar para a realidade da liderança de uma forma inovadora e tentar uma nova definição que parte do que Peter Drucker iniciou e agora se complementa com estas novas dimensões. O professor Manuel Sérgio foi a minha grande fonte inspiracional. Com ele percebi a dimensão do futebol e, nas conversas que tivemos, e nas leituras que fiz da sua obra, ia tendo cada vez mais a certeza de que a liderança das organizações só tem a ganhar se conseguir ter uma atitude de abertura para outras áreas do conhecimento, tal como o próprio me disse várias vezes: "quem só sabe de futebol, não sabe nada de futebol".
Por último; eu gosto de ver futebol, gosto de ver aqueles golpes de génio que levam a bola à baliza, comovem-me as lesões inesperadas e os abraços de fair play, sou uma romântica. Comovi-me quando vi Ferguson abraçar Ronaldo no final do jogo entre Portugal e França, que nos deu a vitória do Euro 2016. Eu vejo o futebol assim, nesta vertente mais filosófica.
A questão da liderança no feminino e no masculino nem sequer é falada no nosso livro, não sei o que achará a Beatriz, mas eu acho que a liderança está acima dessa dicotomia: pode é ficar beneficiada se conseguir esta ambivalência (feminino/masculino) que se consegue através disto mesmo, ter mulheres a falarem de futebol, a ajudarem as lideranças no mundo do desporto, liderarem efetivamente. Sem quotas, de preferência.
Este livro não se preocupou com isso. Na verdade, a preocupação foi ligar o futebol à liderança, quer seja feita no feminino, quer seja no masculino. Posso responder por mim, sim gosto de futebol, vejo-o daquela maneira que referi, com os meus olhos de mulher, com a lente da filosofia, e com a experiência que tenho ao longo dos anos, de trabalhar junto de quem lidera pessoas.
Convidei a Beatriz para escrever o livro comigo, porque ela é uma mulher a quem reconheço uma força única, capaz de mudar o mundo, capaz de construir uma empresa com a dimensão que a Remax já tem em Portugal (foi ela que a criou). A Beatriz, assina a segunda parte do livro, menos teórica e muito baseada na sua experiência. Apesar de ser espanhola, teve a coragem de escrever em português, o que é louvável, e de fazer os paralelismos funcionais, estratégicos e tácticos, entre o futebol e as empresas.
É uma segunda parte, cheia de força, genuína e inspiradora. a minha parte é mais teórica e conceptual. Convém dizer sim, que joguei futebol quando era pequena, num clube de aldeia, treinava à chuva e na lama, seguindo o espírito do treino que se fazia na altura (treino exclusivamente físico e não mental). Jogava como ponta de lança, corria muito, mas não fui grande jogadora. Lembro-me como se fosse hoje, do Arsénio, meu treinador, do meu equipamento, e dos domingos de grande nervosismo antes de entrar em campo.
Sim, fui feliz no Clube Desportivo da Garcia, e sem perceber como isso aconteceu, aqui estou eu agora a escrever sobre futebol.
Ah, e sou do Sporting.
O livro “Duas Mulheres em jogo – Futebol e Liderança” chega às livrarias na segunda semana de outubro. Tem lançamento oficial no estádio da Luz, dia 12 de outubro, com apresentação no estádio de Alvalade, no dia 13 de outubro e no estádio do Dragão em data a confirmar .
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