De acordo com o primeiro Inquérito Sobre a Literacia Financeira de Empresários de Micro e Pequenas Empresas e os Desafios da covid-19 em Portugal, apresentado esta manhã no Museu do Dinheiro, em Lisboa, 46,6% das empresas inquiridas registaram durante a pandemia “uma situação de tesouraria grave, em que as entradas de tesouraria se revelaram insuficientes para fazer face às saídas de tesouraria ou para pagar despesas esperadas da empresa”.
Neste contexto, 25% utilizou a líquidez disponível, enquanto 18,9% reduziu os custos de exploração da empresa e 13,8% contraiu uma nova dívida.
O relatório indica ainda que 64,2% das empresas recorreram a apoios do Estado durante a pandemia. Entre os apoios mais ‘populares’ estiveram o ‘lay-off’ (32,1%), as moratórias (25,2%), as linhas de crédito (24,3%) e as políticas fiscais (19,6%).
O inquérito debruçou-se igualmente sobre o conhecimento de produtos bancários. Mais de 75% disseram conhecer produtos como empréstimos bancários (95,3%), cartões de crédito para empresas (92%), ‘leasing’ ou aluguer de longa duração (88,5%), seguro de responsabilidade civil (88,1%), seguro multirriscos (83,8%) ou facilidade de descoberto ou conta corrente caucionada (77,4%).
Por outro lado, 1,2% disseram não conhecer nenhum produto financeiro, enquanto os financiamentos ‘mezzanine’ são conhecidos por apenas 4,4% dos empresários e a ‘initial coin offering’ por 6,3%.
Já quanto à detenção de produtos financeiros, o seguro de responsabilidade civil é o mais popular, com quase metade (49,2%) dos empresários a deterem um, enquanto 46,7% contam com um cartão de crédito para a empresa, 45% com um empréstimo bancário e 44,9% om um seguro multirriscos.
Para o processo de escolha de produto ou serviço financeiro, 63,9% disseram ter considerado várias opções de instituições diferentes, 18,2% consideraram várias opções de uma instituição, 4,0% não encontraram opções a considerar e 10,% não consideraram quaisquer outras opções.
O administrador da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) Rui Pinto lamentou que o recurso ao mercado de capitais ainda seja “muito limitado”.
“Num contexto em que as principais fontes de financiamento das empresas continuam a ser o autofinanciamento e o crédito bancário, recorrer ao mercado de capitais permite às empresas diversificar essas fontes de financiamento e ter uma estrutura de capital mais equilibrada e sustentada”, referiu, na sua intervenção.
O inquérito, que abrangeu 1.541 micro e pequenas empresas com até 50 trabalhadores, produziu resultados que as colocaram acima da média dos 14 países inquiridos.
No caso das empresas com até nove trabalhadores, estas obtiveram uma pontuação média de 77,3, contra uma média de 67,6 da totalidade dos países e de 68 dos países do G20. Já entre as empresas com entre 10 e 49 trabalhadores, a pontuação foi de 83,9, o suficiente para o segundo lugar global, atrás de Espanha (84,3) e acima da média do G20 (74).
Ainda assim, Rita Bessone Basto, que apresentou os resultados, considerou que estas comparações devem ser feitas com “cautela”, uma vez que não foram “estratificadas com critérios comuns” aos 14 países e porque o inquérito foi feito de forma ‘online’.
Quanto à caracterização dos empresários, 74% são homens, 63% têm idades entre os 40 e os 60 anos, 71% têm mais de 10 anos de experiência, 61% têm educação superior e 50% são filhos de proprietários de empresas.
Já nas empresas, 79% são microempresas, 66% têm mais de 10 anos de existência e 25% contam com um volume de negócios acima de 500.000 euros.
O vice-governador do Banco de Portugal, Luís Máximo Santos, salientou que a literacia financeira tem sido uma das prioridades nos trabalhos da OCDE e do G20, destacando que é um fator crítico para o sucesso das pequenas e médias empresas em Portugal, cuja importância no tecido empresarial destacou.
Já o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, defendeu que a iliteracia financeira é “um dos problemas que o país tem de enfrentar” e salientou, igualmente, a “importância fulcral das PME [pequenas e médias empresas] ”, que representam mais de um quarto do tecido produtor do país.
O ministro mostrou-se ainda preocupado com o problema da capitalização das empresas.
“Se não mudarmos o paradigma do financiamento das empresas, com os bancos, mercado de capitais, vai ser difícil superar as contrariedades e as dificuldades em que o país está”, apontou.
Quanto ao indicador de digitalização, Portugal surge em quarto lugar, com 31,2 pontos nas empresas com até nove trabalhadores – acima da média dos países (25,7 pontos) e do G20 (27,1) – e 35,3 pontos nas empresas que empregam entre 10 a 49 trabalhadores – contra média de 33,2 pontos e 32,9 pontos nos países do G20.
O estudo integrou o primeiro exercício de comparação internacional da literacia financeira destes empresários, e foi promovido pela presidência italiana do G20 no âmbito da Global Partnership for Financial Inclusion, com base num questionário desenvolvido pela International Network on Financial Education (INFE) da OCDE.
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