“Em 2019, com muitos menos sócios, com áreas relativamente novas ainda numa fase inicial de produção, recebemos cerca de 600 toneladas de vinho. Este ano, com mais 40 sócios que entraram em 2020, com vinhas mais maduras, recebemos apenas 240 toneladas de vinho”, explicou à Lusa Losménio Goulart, presidente da Adega Cooperativa Vitivinícola do Pico — Picowines.
Apesar do mau ano de produção, a adega do Pico recebeu 60% das uvas produzidas nos currais de pedra da “ilha montanha”, onde está situado o ponto mais alto de Portugal, com 2351 metros de altura, ilha onde estão também instalados outros 14 empresários ligados à produção vitivinícola.
”A Cooperativa está na vanguarda dos vinhos dos Açores”, realçou Losménio Goulart, lembrando que os 328 mil litros de vinhos certificados, recebidos este ano por aquela adega, representam “75% dos vinhos certificados dos Açores”.
Apesar da dimensão destas percentagens, a quebra na produção vitivinícola, devido às condições climatéricas, e a pandemia da covid-19, que obrigou a reforçar a capacidade de armazenamento da adega, fizeram com que 2021 fosse um ano mau para os produtores de vinho do Pico.
“No ano passado, devido à pandemia, faturamos um terço daquilo que tínhamos no plano e orçamento para 2020. Tínhamos projetado faturar um milhão e 700 mil euros e faturámos apenas 600 mil euros”, recordou o presidente da Adega Cooperativa Vitivinícola do Pico, ressalvando que, “felizmente”, este ano, a faturação já ultrapassou 1,2 milhões de euros.
Segundo Losménio Goulart, a pandemia impediu que a Adega tivesse pagado atempadamente aos seus produtores, que têm ainda a receber, parte da produção de 2019, e toda a produção de 2020 e de 2021, uma vez que o Conselho de Administração se viu obrigado a recorrer à banca para reforçar a capacidade de armazenamento do vinho que não foi vendido.
“O preço pago à produção teve também de baixar o ano passado, e voltou a baixar ligeiramente este ano”, lembrou o presidente da Adega, acrescentando que “não pode baixar mais”, sob pena de provocar o abandono das vinhas, uma vez que “os custos de produção são muito elevados”.
No seu entender, a produção de vinho na ilha do Pico necessita de continuar a ser apoiada, na produção, quer com ajudas compensatórias da região, quer com o programa comunitário POSEI, quer com os incentivos à manutenção dos currais de vinhas tradicionais, sob pena da produção poder desaparecer.
“As vinhas do Pico são muito trabalhosas. É tudo manual, é tudo difícil! Em cada dez anos de produção, temos dois anos bons, três anos razoáveis e cinco anos maus, por questões meteorológicas”, recordou Losménio Goulart, que reivindica também mais apoios à perda de rendimentos dos produtores de vinho da ilha.
Para compensar a perda de rendimentos dos produtores, e simultaneamente fazer escoar os milhares de litros de vinho que estão em ‘stock’, de anos anteriores, a Adega Cooperativa Vitivinícola do Pico está a apostar numa rede de distribuição nacional e também a investir na criação de produtos diversificados, para clientes diferentes.
”Estamos a criar gamas de vinhos diferentes, posicionando-os num patamar de preço mais acessível, para que a nossa restauração possa ter vinhos regionais a bons preços e para que se possa encontrar um vinho certificado em qualquer restaurante regional”, explicou Losménio Goulart.
Além disso, a Adega está também a investir na produção de vinhos de qualidade, numa gama mais alta, com garrafas numeradas, assinatura do enólogo e vinhos com estágios diferentes, para um outro patamar de exigência.
“Um desses exemplos é o Gruta das Torres, uma edição exclusiva de vinhos, com estágio na própria Gruta das Torres, aqui no Pico, durante 15 meses, que exige muito trabalho, desde logo, na seleção das próprias uvas, mas que permite oferecer ao público um produto de excelência”, frisou.
A Adega Cooperativa Vitivinícola do Pico, criada em 1949, tem atualmente 280 produtores de vinho, embora a maioria deles desempenhe a atividade apenas a tempo parcial.
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