Esta posição foi transmitida por Ana Catarina Mendes momentos antes da votação final global da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2020, num discurso em que atacou sobretudo a atuação dos sociais-democratas face às 1.300 propostas de alteração que foram apresentadas pelo conjunto das forças políticas em sede de especialidade.
Ana Catarina Mendes defendeu que a sua bancada "esteve sempre disponível para o diálogo e a negociação com todos os partidos", e, por isso, procurou estabelecer "as pontes necessárias" face a propostas que poderiam "desvirtuar" o projeto do executivo e dos socialistas.
"Eu diria, se me permitem, que, apesar de chegarmos a um documento que nos satisfaz, ficámos perplexos com as propostas que, em sede de especialidade, aqui e ali, foram chegando. Algumas de absoluta irresponsabilidade, populares talvez, muitas a tocar o populismo, é certo. Mas capazes de destruir, num instante, a rota de estabilidade financeira e desenvolvimento social e económico que iniciámos há quatro anos", apontou, antes de visar o PSD.
A presidente do Grupo Parlamentar do PS afirmou que "a perplexidade aumenta quando estas propostas chegam por parte de partidos que já tiveram responsabilidades de governação e que sabem o quão difícil é encontrar o ponto de equilíbrio".
"A escolha pelo caminho do demagógico e do tático é má em todas as forças partidárias, mas é particularmente grave quando apresentada pelo maior partido da oposição, a quem se exige tanta responsabilidade como a quem governa. A proposta de redução da taxa do IVA na eletricidade é bem o exemplo da irresponsabilidade do PSD", acusou.
O episódio da tentativa de redução do IVA da eletricidade, na perspetiva da líder da bancada do PS, constituiu "uma peça de teatro em três atos" protagonizada pelo PSD.
"Primeiro ato, redução da taxa do IVA da eletricidade; segundo ato, redução da taxa do IVA da eletricidade apenas com a aprovação de contrapartidas; terceiro ato, falácia e logro - dão o dito por não dito e afinal, mesmo sem contrapartidas, ameaçam acompanhar as propostas de outras bancadas. No final, acompanham uma das propostas e saem de cena na outra. Estamos esclarecidos quanto ao PSD", declarou Ana Catarina Mendes.
Mas a presidente do Grupo Parlamentar do PS deixou também uma mensagem de crítica dirigida às forças à esquerda da bancada socialista: Bloco de Esquerda, PCP e PEV.
"Também quero aqui sublinhar que alguma esquerda acabou por ceder à tentação e lá foi, a correr, em jeito de caução, atrás dessa proposta absurda, esquecendo o contributo que, nos últimos quatro anos, deu para um Portugal mais equilibrado, mais justo e de contas certas", disse.
Em relação às forças à esquerda dos socialistas, a presidente do Grupo Parlamentar do PS, numa nota de improviso, dirigiu-se diretamente à coordenadora do Bloco de Esquerda: "Sim, senhora deputada Catarina Martins, o PS esteve neste debate com responsabilidade e com lealdade".
Das alterações feitas no processo de especialidade que deixaram o PS sozinho, Ana Catarina Mendes insurgiu-se sobretudo contra "a irresponsabilidade da votação para suspender as obras do metro" de Lisboa.
"Uma obra em curso, cuja suspensão significa perda de fundos comunitários, eventuais indemnizações a empreiteiros e, claro está, prejuízo dos utentes, dos muitos utentes, que, num futuro muito próximo, com esta linha circular iriam ter dias mais fáceis. Esta é uma decisão que a oposição, em grupo, decidiu tomar e que - é bom que se diga - lesa, sobremaneira, os portugueses. Não só pelo dinheiro que, na prática, é deitado ao lixo, mas também por não contribuir - como é nosso dever - para a qualidade de vida de todos quantos utilizam os transportes públicos da grande Lisboa e para a sustentabilidade ambiental", sustentou.
Neste contexto, Ana Catarina Mendes reafirmou que o Grupo Parlamentar do PS não se pode conformar com esse passo dado para a suspensão das obras no metro e que "suscitará a fiscalização da constitucionalidade dessa norma por tudo o que ela representa".
No plano político, Ana Catarina Mendes sinalizou que a bancada socialista "continuará sempre disponível a trabalhar em plataformas de entendimento com todos os partidos com assento parlamentar".
E, num recado ao Governo, quando falava sobre matéria de habitação, referiu mesmo que o Grupo Parlamentar do PS estará "vigilante" no que respeita à execução do Orçamento.
Depois, Ana Catarina Mendes fez uma série de elogios à proposta orçamental do executivo socialista, considerando que é "histórico" porque apresenta "contas certas, aumenta os apoios sociais dos que mais precisam", designadamente "dos idosos mais vulneráveis aos jovens a começar uma vida de trabalho".
"Este é um orçamento histórico porque reforça sem precedentes o Serviço Nacional de Saúde. Este é um orçamento histórico porque, nesta casa, e com diálogo e negociação com todas as forças democráticas, conseguimos um melhor Orçamento para o país", acrescentou.
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