“Uma recuperação forte e inclusiva da recessão exigirá melhorias duradouras nas políticas económicas”, frisou o documento, que faz uma análise profunda sobre a economia brasileira.
O relatório foi apresentado numa conferência de imprensa virtual pelo secretário da OCDE, o mexicano Ángel Gurría, e pelo ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, um dos principais defensores da adesão do Brasil como membro pleno do organismo que reúne as economias mais desenvolvidas do mundo.
Na sua intervenção, Guedes afirmou que as reformas económicas defendidas pelo Governo brasileiro estão alinhadas com o relatório.
“O relatório [da OCDE] apresenta um diagnóstico muito construtivo e alinhado com nossa própria avaliação porque destaca a importância de se avançar com as reformas económicas e financeiras que são estruturantes para o país justamente como um caminho para a modernização e a retomada para um crescimento sustentável”, afirmou o ministro da Economia do Brasil.
De acordo com as projeções da OCDE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil vai contrair 5% em 2020 devido à pandemia e a recuperação será lenta, uma vez que se espera um crescimento de apenas 2,6% para 2021. Para 2022 a previsão é de um crescimento de 2,2% da produção de riqueza no país.
“A pandemia reverteu a lenta recuperação que o Brasil vinha experimentando após a última recessão e mergulhou a economia em outra recessão ainda mais profunda”, avaliou o documento da OCDE, que mencionou a crise económica que o Brasil sofreu em 2015 e 2016, quando o PIB caiu quase sete pontos percentuais.
O acordo projetou que o Brasil encerrará 2020 com quedas no consumo e nos investimentos de 6,2% e 5,2%, respetivamente, além de uma taxa de desemprego de 13,6%, que continuará a subir em 2021 (16%) e que só começará a descer em 2022 (15%).
A OCDE afirmou que o Governo brasileiro respondeu inicialmente com uma política adequada através da qual distribuiu ajuda a cerca de 60 milhões de trabalhadores, desempregados e pobres para mitigar os efeitos da pandemia.
“Essas políticas responderam de maneira oportuna e decisiva apoiando a renda de milhões de brasileiros, financiando o trabalho de curto prazo, facilitando a expansão do crédito, postergando impostos e antecipando o desembolso de benefícios”, disse a agência.
Mas uma recuperação forte e constante exigirá, segundo a OCDE, melhorar os resultados fiscais do país, melhorar as políticas de proteção social, manter a agenda de reformas estruturais da economia e promover um novo modelo de desenvolvimento baseado mais no aumento da produtividade do que na massa trabalhadora e consumidora.
A OCDE pontuou que o aumento dos gastos públicos devido à pandemia e a redução das receitas fiscais fizeram com que o défice nas contas públicas do país atingisse o equivalente a 15,6% do PIB em 2020.
A dívida pública brasileira, por sua vez, também atingiu nível recorde, equivalente a 91,4% do PIB do país em 2020, e as projeções apontam para que continue subindo, para 94,3% do PIB, em 2021, e até 96,6%, em 2022.
“A proteção social tem que ser fortalecida por meio de uma distribuição mais eficiente dos benefícios, o que pode permitir reduções significativas da desigualdade e da pobreza”, defendeu o relatório.
Para a OCDE, porém, o crescimento mais forte dependerá de o Brasil aumentar sua produtividade, estagnada há décadas já que o país não será mais favorecido por um aumento demográfico da população.
A agência ressaltou que, sem os fatores demográficos que o beneficiam, para uma expansão simultânea do consumo das famílias e do Governo, o Brasil terá de impulsionar a produtividade, “o motor definitivo do crescimento”.
“Sem reformas estruturais profundas para aumentar a produtividade, a recuperação será lenta e dececionante. Reformas estruturais ambiciosas que aumentem a produtividade ajudariam a impulsionar o crescimento”, concluiu.
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