"As próprias contas da empresa estavam a ser empoladas para não dar prejuízos, e portanto para esconder uma gestão completamente danosa", disse hoje Daniel Santos no parlamento, sobre a gestão que a Prébuild, de João Gama Leão, fez das Cerâmicas Aleluia.
Falando hoje aos deputados, o diretor de recuperação de crédito do Novo Banco até março deste ano referiu que a instituição teve de fazer "uma correção às contas".
"Encontrámos uma sobrefaturação nesses três anos de gestão Prébuild de à volta de 19 milhões de euros, se não me engano", disse hoje na sua audição na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
Respondendo à deputada Mónica Quintela (PSD), Daniel Santos explicou que as Cerâmicas Aleluia eram o único grande ativo "com valor" do grupo Prébuild, que devia 300 milhões de euros ao Novo Banco, não existindo mais garantias executáveis além de "penhor de ações de várias empresas".
"A Aleluia já era uma empresa que vinha mal desde 2012, quando a Prébuild a comprou", lembrou, havendo a presunção de que o grupo viesse "adicionar gestão e capacidade", dada a "capacidade de exportar" do grupo de construção civil.
No entanto, Daniel Santos afirmou que a empresa "estava a ser desnatada, com vendas de exportações para empresas do grupo de outros países, que depois não eram recebidas".
"Tivemos denúncias de trabalhadores que vieram ter connosco a dizer isso, quando isso [o caso da empresa] passou para nós, para atuarmos assim que pudéssemos, no sentido de ir buscar a empresa, porque senão deixaria de haver empresa em pouco tempo", disse aos deputados.
Mais tarde, perante uma pergunta do deputado Duarte Alves (PCP) sobre uma reunião com João Gama Leão, Daniel Santos detalhou que o empresário pediu, por carta, uma reunião com o banco, em 2014.
"Veio pedir para reestruturar a dívida não pagando sequer juros. Recapitalizar tudo e dar tempo. É o melhor dos mundos. 'Deem-nos só tempo e eu não dou nada', basicamente era isto", detalhou assim o antigo diretor de recuperação de crédito do Novo Banco.
Daniel Santos disse que o grupo Prébuild tinha também pré-financiamentos a exportações no BES, e "dos 200 milhões pré-financiados tinha exportado 40, ou se exportou mais exportou para outros bancos, e não veio parar ao banco".
"Qual era a credibilidade que o banco tinha para conceder o que quer que fosse a um senhor que tinha pedido para reestruturar a dívida e nem juros pagava? Acho que isto diz tudo", acrescentou.
Na audição de João Gama Leão, no dia 06 de maio, o empresário detalhou essa mesma reunião com o então administrador do Novo Banco Vítor Fernandes e com Daniel Santos, acusando o administrador de ter uma "postura agressiva".
De acordo com o empresário, a única intenção do Novo Banco era retomar a Aleluia Cerâmicas.
“Essa reunião correu muito mal porque o doutor Vítor Fernandes teve uma postura muito agressiva, muito mal-educada, no sentido de ‘ou pagas ou vais para insolvência, mas tens aqui uma alternativa que é devolver-nos as cerâmicas’”, relatou.
O empresário disse que as cerâmicas foram perdidas para um fundo que não nomeou, mas que suspeita estar relacionado com o maior produtor de matéria-prima para aquele segmento industrial.
"Esse grupo que tinha as matérias-primas teria que falar comigo para ter negócios. E essa posição de líder no mundo da cerâmica, como é óbvio, trouxe-me alguns inimigos", referiu.
"Esse grupo de matéria-prima foi adquirido por um fundo, que eu não consigo precisar qual é", prosseguiu João Gama Leão, acabando por dizer que o Novo Banco fez uma "manobra" para "servir esse fundo" quando o grupo empresarial ficou fora do controlo do empresário.
"Acho que o destino do meu grupo se deve a essa vontade de alguém. Porque se as cerâmicas não pertencem ao Novo Banco, se não ganharam dinheiro com as cerâmicas, então serviram o interesse desse fundo e não do Novo Banco", concluiu.
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