Questionado sobre se os empresários brasileiros manifestaram preocupação em relação ao acordo de livre comércio que vem sendo negociado há mais de 23 anos entre o bloco europeu e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) – composto pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e que aprovou o ingresso da Bolívia -, Cravinho frisou que a “preocupação que eles [empresários brasileiros] colocaram é de não chegarmos a um acordo”.
“Há um forte compromisso do lado brasileiro e do lado português também em relação ao acordo e eu senti que a Fiesp, como representante da indústria brasileira, tem um compromisso muito grande com o sucesso destas negociações”, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa no final de uma reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um dos maiores sindicatos patronais do Brasil.
O ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu ter expectativa de que os blocos cheguem a um acordo até o fim do primeiro trimestre de 2024.
Cravinho acrescentou que, no encontro com empresários, na Fiesp, expôs a realidade da economia portuguesa e declarou estar muito satisfeito com o facto de o Governo brasileiro ter escolhido abrir um escritório em Lisboa como sede europeia da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
“Isso em si é uma demonstração de confiança na nossa economia. Senti que o empresariado brasileiro já está muito ciente daquilo que é a realidade económica portuguesa, isto é, não tem uma visão antiquada e ultrapassada (…), pelo contrário, reconhece Portugal como um ecossistema extremamente interessante para as ‘startups’, para as novas tecnologias”, avaliou o ministro.
Fazendo um breve balanço sobre a sua visita ao país sul-americano, que começou na quinta-feira e termina na manhã de sábado, Cravinho reforçou que, em Brasília, se reuniu com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, para tratar da agenda bilateral, instâncias multilaterais e também de outros assuntos relacionados com as temáticas da agenda internacional, incluindo a situação em Gaza e a continuação da guerra na Ucrânia.
O ministro português confirmou que falou com o seu homólogo brasileiro sobre a tensão entre a Venezuela e a Guiana, que emergiu novamente após a aprovação de um referendo na Venezuela que reivindica a posse do território de Essequibo, administrado pela Guiana.
“Trocámos impressões sobre isso e, muito em particular, ouvi, porque embora tenhamos algumas informações a partilhar [sobre a disputa pelo território de Essequibo], mas sobretudo o Brasil conhece muito bem [a situação] e está muito envolvido em ser uma voz de razão, uma voz que procura encorajar particularmente a Venezuela a encontrar uma solução pacífica”, pontuou.
Cravinho mencionou o facto de cerca de 400 mil pessoas com cidadania portuguesa viverem na Venezuela.
“Obviamente nos preocupa muito qualquer instabilidade na Venezuela, mas quanto a isso diria que é fundamental que as dinâmicas de política interna, porque sabemos que este é um momento intenso de política interna na Venezuela, não devem, depois, ter efeitos em termos de política externa, porque quando isso acontece é sempre mau”, declarou.
“Verifica-se também uma outra realidade bastante comum. O vírus do nacionalismo é muito fácil de provocar e é muito difícil de erradicar. E, portanto, pensamos que se deve ter muita cautela quando se trata de questões que devem ser resolvidas de forma serena, através do diálogo, questões de fronteiras, questões do território. E quando há um processo que leva a uma dinâmica muito nacionalista isso quase sempre tolda a razão e torna difícil a resolução serena dos problemas”, acrescentou Cravinho.
O ministro dos Negócios Estrangeiros frisou que Portugal encoraja a Venezuela a encontrar soluções que sejam pacíficas e confia na influência do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e da diplomacia brasileira para ajudar a Venezuela e a Guiana a encontrarem uma solução que seja pacífica e a contento de ambas as partes.
Além dos encontros com o ministro das Relações Exteriores brasileiro e com empresários na Fiesp, Cravinho participou, na noite de quinta-feira, da cerimónia em que o investigador português Álvaro Vasconcelos assumiu a coordenação da cátedra José Bonifácio do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP).
Hoje à tarde, o ministro vai reunir-se com o Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para uma conversa que deverá abordar temáticas da comunidade portuguesa, os fluxos económicos e o intercâmbio cultural.
Outro assunto que será abordado com o governador é o projeto de uma Escola Portuguesa em São Paulo, cujo projeto foi anunciado em 2018, mas ainda não saiu do papel. Brasil e Portugal planeiam criar uma instituição de ensino com dupla certificação curricular, dotada de um Centro de Língua Portuguesa e de um núcleo de formação para professores.
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