As vendas brasileiras à Argentina, o seu terceiro maior parceiro comercial e o primeiro na região, desacelerou por causa da crise económica, descendo de 11,3 mil milhões de dólares nos primeiros oito meses de 2018 para 6,7 mil milhões de janeiro a agosto deste ano.
O Brasil, escreve a Efe, registou um saldo negativo na balança comercial com a Argentina de 260 milhões, segundo os dados do Ministério da Economia.
“Esta crise não começou hoje, mas intensificou-se; a Argentina representava 7% da produção industrial há 12 anos, mas hoje vale apenas 1%”, comentou o economista da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), o mais influente empregador do país, André Rebelo.
Um dos setores mais afetados é a indústria automóvel, já que a Argentina absorvia, até ao ano passado, 75% das exportações de veículos brasileiros, mas agora vale apenas 53%.
O Brasil vendeu 160.965 veículos para a Argentina entre janeiro e agosto deste ano, o que revela uma queda de 53% em relação ao mesmo período do ano passado e o menor nível desde 2013, segundo a associação da indústria.
Apesar da queda livre das exportações, especialmente no setor automotivo, a indústria brasileira continua a ver a Argentina como um parceiro fundamental para o país, pois é o terceiro destino de seus produtos, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
“A Argentina será sempre estratégica por causa da sua proximidade, mas agora precisamos esperar para ver a solução”, disse o economista da FIESP.
A crise argentina decorrer desde abril de 2018, quando uma súbita desvalorização do peso face ao dólar desencadeou uma grave recessão e um forte aumento da inflação e dos níveis de pobreza.
A derrota do atual Presidente, Maurício Macri, nas eleições primárias de 11 de agosto, ganhas pelo peronista Alberto Fernández com uma diferença de 15 pontos, agravou a situação de crise.
Desde então, e na sequência de fortes variações dos mercados, o dólar aumentou o seu valor em cerca de 23% face à moeda local e deverá ter reflexos na inflação, que em 2018 já se situou nos 47,6%, o valor mais alto desde 1991.
Em paralelo, o prémio de risco do país disparou mais de 200%, enquanto os analistas preveem uma inflação de 55% para 2019.
Nas últimas semanas, após a sua derrota nas primárias — que complica a sua reeleição nas eleições de 27 de outubro –, o Presidente Maurício Macri aprovou diversas medidas para enfrentar os efeitos de nova desvalorização, como a eliminação do IVA para diversos alimentos básicos, congelamento do preço da gasolina e benefícios fiscais para trabalhadores e pequenas e médias empresas.
O Governo, alvo de forte contestação social, também iniciou a aplicação de medidas de controlo cambial para tentar travar a subida do dólar e a fuga de divisas, e disse que vai procurar alargar o prazo do pagamento da dívida com os credores privados e com o Fundo Monetário Internacional (que em 2018 aprovou um empréstimo à Argentina de 56,3 mil milhões de dólares/51,3 mil milhões de euros) com o objetivo de preservar as reservas monetárias.
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