“Estavam previstas as injeções de capital e essas injeções de capital terão lugar, criar uma expectativa errada sobre o tema é um erro, devemos ser claros”, disse António Ramalho aos jornalistas, à margem do Fórum Capitalizar, organizado em Lisboa pelo Jornal Económico e Novo Banco.
O gestor recusou, contudo, a indicar qual o valor que será requerido junto do Fundo de Resolução, uma vez que as contas de 2018 ainda não estão fechadas e só serão públicas em 1 de março.
“A recapitalização do banco é determinada depois de auditadas as contas e em função do que é o nosso projeto, completamente acordado entre todas as partes, no sentido de reforçar a instituição que tinha um processo de resolver legados que queremos que seja o mais rápido possível”, disse António Ramalho, acrescentando que, desse modo, o Novo Banco será “mais eficiente para o sistema financeiro português" e cumprirá melhor o seu papel de banco de empresas.
Contudo, indicou, os acionistas do Novo Banco conhecem as necessidades de capital: “Os nossos dois acionistas, quer a Lone Star quer o Fundo de Resolução, conhecem bem as necessidades de capital que serão essenciais à instituição”, afirmou.
O Novo Banco, que ficou com parte da atividade bancária do Banco Espírito Santo (BES) - resgatado no verão de 2014 -, é desde outubro de 2017 detido em 75% pelo fundo norte-americano Lone Star, sendo os restantes 25% propriedade do Fundo de Resolução bancário (entidade da esfera pública gerida pelo Banco de Portugal).
Então, a Lone Star não pagou qualquer preço, tendo acordado injetar 1.000 milhões de euros no Novo Banco, e negociou um mecanismo que prevê que, durante oito anos, o Fundo de Resolução injete até 3,89 mil milhões de euros no Novo Banco por perdas que venha a registar num conjunto de ativos 'tóxicos' e alienações de operações não estratégicas (caso ponham em causa os rácios de capital da instituição).
Em 2017, perante prejuízos recorde de 1.395,4 milhões de euros (num ano em que constituiu mais de 2.000 milhões de euros de provisões), o Novo Banco ativou esse mecanismo e o Fundo de Resolução recapitalizou-o em 792 milhões de euros.
Para isso, uma vez que o Fundo de Resolução não tinha todo o dinheiro necessário, o Tesouro público emprestou 430 milhões de euros.
O Jornal de Negócios noticiou em outubro que, tendo apenas em conta os resultados do Novo Banco do primeiro semestre, o banco precisaria já de 726 milhões de euros.
Contudo, a atividade do banco no último semestre do ano deverá fazer aumentar a injeção de capital, desde logo com a aceleração da venda de malparado.
No final do ano de 2018, o Novo Banco anunciou a venda de uma carteira de crédito malparado de 2.150 milhões de euros a fundos de investimento, sem divulgar o preço do negócio.
Apesar do impacto positivo desta venda no balanço, tal deve ter um impacto negativo nos resultados do banco caso haja necessidade de suprir a diferença a que os créditos estão registados no balanço e o valor a que são vendidos.
António Ramalho disse hoje que esta venda será registada nas contas de 2018 e que teve “um prejuízo inferior a 6%”.
Já no início deste mês, numa carta aos trabalhadores, António Ramalho admitiu que as exigências em termos de rácios de capital feitas pelo Banco Central Europeu (BCE) não desceram tanto quanto se esperava, o que também contribui para aumentar as necessidades de capital.
Em 11 de janeiro, o Jornal Económico noticiou que o Novo Banco “prepara-se para pedir ao Fundo de Resolução um valor recorde por conta das necessidades de capital de 2018”.
O ministro das Finanças, Mário Centeno, disse em outubro que o défice de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para este ano já inclui cerca de 400 milhões de euros para a recapitalização do Novo Banco.
Já o Orçamento do Estado de 2019 prevê um empréstimo até 850 milhões de euros do Tesouro ao Fundo de Resolução, verba que deverá ser usada no processo de recapitalização do Novo Banco.
(Notícia atualizada às 14:08)
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