VAR. O vídeoárbitro esteve na ordem do dia em duas noites de meias-finais da Taça da Liga ao ponto do jogo decisivo ter tido a ajuda da arbitragem televisionada por dois vídeoárbitros e ainda um vídeoárbitro assistente que olharam para o jogo a partir da sala destinada para o efeito na Cidade do Futebol, casa da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Na final que opôs Porto ao Sporting, no Estádio Municipal de Braga, no campo esteve o árbitro Bruno Pinheiro, acompanhado dos assistentes Nuno Eiras e Paulo Vieira, e Manuel Mota como quarto árbitro.
À partida parece muitos olhos para decidir no milésimo de segundo e na enésima repetição do frame de tudo aquilo que se passa em campo. Convém esclarecer que não é uma novidade made in Portugal – dois VAR foram utilizados no Mundial da Rússia –, uma dose que será repetida na final da Taça de Portugal.
O VAR (Árbitro assistente de vídeo) foi tema nos dias que antecederam a final. Ao ponto da FPF ter feito uma formação com jornalistas a explicar as dificuldades de medir centímetros através de uma câmara de televisão.
Na primeira vez que foi chamado a escutar-se (perdão, a fazer-se ouvir pelo chefe da equipa de arbitragem), o arbitro humano decidiu sem polémica: Herrera, na área, encolheu-se e a bola, disparada a pouco mais de um metro, bateu-lhe no braço.
Aproximávamo-nos do final da primeira parte e o tradicional bola na mão e não mão na bola saltou à vista e foi suficiente para o árbitro nem necessitar de ir ver o lance à caixa misteriosa.
O VAR voltaria a entrar em campo no minuto 90. Aí o árbitro consultou a caixa e decidiu-se pelo castigo máximo que beneficiou o Sporting, que perdia por 1-0 (golo de Fernando Andrade).
Óliver pretendeu aliviar a bola com tantas ganas que pontapeou o pé de Raphinha. Bas Dost marcou, empatou o jogo e levou a partida para penáltis, onde os leões viriam a sair vencedores.
Com mais ou menos repetição, mais ou menos tecnologia, uma partida de futebol, ainda assim, continua a ser decidida no relvado. E a mostrar que é um jogo jogado por seres humanos.
Do futebol tecnológico à bola que rola no relvado
Deixemos, pois, esta dissertação sobre o futebol 4.0 e falemos de bola pura e dura.
Renan, guarda-redes leonino, que tinha sido o super-herói das meias-finais ao defender três grandes penalidades, mostrou que pode errar como um ser de carne e osso. No golo portista, o nª40 verde e branco, defendeu, para a frente, o remate de Herrera, tentou remendar com os pés o erro cometido com as mãos, um desejo interrompido por Fernando Andrade, avançado que o Porto foi buscar ao Santa Clara na janela de inverno e já tinha marcado no encontro anterior (diante o Benfica).
Mas esta história não ficou por aqui. Tal como os super-heróis que assumem um lado terreno, depois de ter descido à terra, o brasileiro voltou a vestir uma camisola com super poderes. Bailando na linha de baliza, nos pontapés da marca de onze metros, defendeu um remate e “desviou” com o olhar outros dois, dando a vitória à equipa leonina que assim repete o triunfo na Taça da Liga, vitória essa alcançada, de novo, nos penalties.
Rebobinemos a fita do jogo. E vejamos como é que aqui chegamos.
Entre o ser mandão e o não ter pés de chumbo. Os desejos que os treinadores levaram para o relvado
No lançamento do jogo, Rodolfo Correia, treinador-adjunto do Sporting, deixou a garantia que o Sporting iria “continuar a ser mandão” mas que essa vontade poderia, por vezes, “ter que se adaptar ao adversário”.
Já Sérgio Conceição assumiu que “por ser uma final, mesmo não se jogando bem, o importante é ganhar. Para dançarmos bem, temos de ter um par que corresponda, não podemos ser uns pés de chumbo", disse.
Pés, ou antes, remates com os pés foi algo que não se viu nos primeiros 45 minutos por parte dos dragões. Só por uma vez remataram em direção à baliza de Renan e ainda assim foi pela cabeça de André Pereira.
Se a defesa portista se mostrava imperial no jogo aéreo (em especial Pepe que parece ter molas nas chuteiras), já com os pés mostravam alguma precipitação. Óliver permitiu o primeiro remate do jogo, um disparo de Nani (9´), logo de seguida o (mau) pontapé de Vava esbarrou em Raphinha e Pepe, no segundo tempo, parou no tempo, lateralizou, isolou Raphinha, originou amarelo para Felipe por travar o seu compatriota que veste de verde e branco. Na sequência do livre, Bruno Fernandes quase que levantou metade do Estádio da Pedreira.
O Porto ora jogava bola para o ar, a defender, ora fazia lançamentos profundos para a corrida do avançado Marega (que neste jogo parecia que necessitava de mais 10 metros de linha final) e Corona.
O médio mexicano dos dragões, esteve em destaque no lado direito do ataque da formação azul e branca. Entre várias incursões pelo corredor pôs a nu as fragilidades defensivas de Acunã, médio adaptado a defesa que levou o habitual amarelo.
Os leões fizeram cinco remates direcionados à baliza (embora não tenham dado origem a qualquer defesa), contra um apenas da equipa de Sérgio Conceição (pela cabeça de André Pereira).
Antes do apito para o intervalo o VAR obrigou a uma curta paragem para uma rápida decisão da equipa de arbitragem, conforme já escrito no início.
No arranque do segundo tempo, Kaiser sentiu que Acunã poderia não acabar o jogo e meteu Jefferson. Foi uma alteração estratégica. Só que o futebol é fértil em trocar as voltas a quem está sentado no banco a orientar. André Pinto saiu lesionado no nariz, foi substituído por Petrovic, que se lesionou igualmente no nariz numa disputa com André Pereira. Do banco leonino a mudança, neste caso, foi só da camisola do médio (ensanguentada). E o sérvio jogou o resto encontro com o nariz torto.
A primeira defesa da final da Taça da Liga surgiu por volta do minuto 60. Renan respondeu com segurança a uma cabeçada de Felipe.
O Sporting que até foi um tanto ou quanto mais mandão no primeiro tempo trocou de papel com o FC Porto na etapa complementar.
As mãos que traíram por instantes o herói da Final Four
Herrera e Brahimi empurravam os dragões para a frente, Conceição foi ao banco buscar Fernando Andrade e com naturalidade, ao minuto 78, surgiu o golo portista. O tal que mostrou que Renan pode ser super-herói num dia e errar como um ser humano três dias depois.
Imagine que não viu imagens. Foi assim: remate de Herrera. A bola bate na relva antes mesmo de embater no peito do guarda-redes leonino. Os braços não “matam” a bola, esta ressalta para a frente. Renan tenta com os pés emendar o erro de braços, estica a perna, Fernando Andrade encosta a bota na bola e golo do Porto. O herói das meias-finais virava, naquele instante, o patinho feio da final.
Em vantagem, Sérgio Conceição tira Corona e mete Danilo. Respondeu Kaiser, em desvantagem, ao meter Diaby por troca de Gudelj.
Depois de uma jogada protagonizada por Jefferson, um centro que obrigou Vava a meter o esférico para canto quando quase soava o gongo final, eis que surge o tal lance que obrigou o árbitro a recorrer às imagens vindas das câmaras que moram na Cidade do Futebol, no Jamor.
O minuto que adiou o título inédito ao FC Porto
Um minuto que mudou a história do encontro. Penalidade à vista de todos os que estão a seguir o jogo pelas teleobjetivas da transmissão televisiva. Bas Dost não falhou e levou o jogo para os castigos máximos. Não sem antes, um passe açucarado de Bruno Fernandes que Raphinha não selou com golo.
Chamados à decisão final, o avançado holandês dos leões voltou a fazer com que a bola beijasse as malhas, algo que não sucedeu com Coates. Tudo parecia que poderia correr mal para os leões até que Militão falhou, Renan defendeu o remate de Hernâni e Felipe disparou à barra.
O Porto falhou três penalidades (e perdeu a terceira final da Taça da Liga) e o Sporting revalidou o título com a mesma receita aplicada na época anterior.
Kaiser torna-se o segundo treinador estrangeiro a vencer esta competição (Quique Flores tinha-o conseguido ao serviço do Benfica).
Sérgio Conceição, treinador dos dragões que conquistou, em agosto, a Supertaça, já depois de ter quebrado um jejum de quatro épocas sem títulos do FC Porto, ao sagrar-se campeão nacional, falha a conquista do único troféu interno que falta a Pinto da Costa e ao Porto.
Esta foi a primeira vez que as duas equipas se defrontam numa final da Taça da Liga, mas entre Taça e Supertaça já se tinham encontrado em oito finais, com vantagem dos leões: seis vitórias, contra duas dos dragões. Leões que somam mais uma vitória e aumenta a estatística do seu lado. Sete vitórias.
O que é que é isso, ó meu?
Remate de Herrera. Bola embate na relva. Renan não a encaixa no peito e deixa-a escapar entre mãos. Os pés ainda tentam emendar mas o ressalto vai parar aos pés de Fernando Andrade, avançado portista. Que inaugurou o marcador.
Renan vantagem de ter dois pés
No melhor, no pior e no melhor outra vez. Assim se pode resumir os 180 minutos de jogo dos dois encontros (mais um pozinhos gastos com a decisão da marca de grande penalidade nos dois jogos) de Renan na Final Four da Taça de Liga. Defendeu quatro penalties e deu “um frango”. Mas se no final os leões levantaram pela segunda vez consecutiva o troféu muito se deveu ao guarda-redes brasileiro.
Fica na retina o cheiro de bom futebol
Brahimi, médio argelino, transpira futebol. Com o jogo a aproximar-se do seu final, no último terço do terreno, ocupando o lado esquerdo, serpenteou entre jogadores vestidos de verde e branco, um, dois, três, flectiu para a esquerda, para a direita, foi em frente e com um passe a saber a mel, colocou a bola na pequena área e quase que deu golo.
Nem com dois pulmões chegava à bola
Corona fez quase tudo o que quis de Acunã e arrancou-lhe um amarelo. Kaiser tentou emendar a mão e colocou-lhe na frente Jefferson no segundo tempo. Mas o médio mexicano não se atemorizou. Num bailado à Ronaldo, saltitante, desconcertante, aproximou-se da área leonina e sentou o defesa brasileiro, confundido com tanta finta de corpo junta.
Comentários