
António Teixeira é um atleta amador que leva a corrida de forma muito profissional, faz provas de dois em dois meses, tendo já participado em competições pela Europa. O atleta explica ao SAPO24 que o valor das corridas, em Portugal, varia entre os 15 (10km) e os 35 euros (maratonas). O preço das inscrições já cobre um seguro para cada atleta, acrescenta, e, por isso, essa não é a razão para concordar com a proposta da FPA.
"Quem gosta de correr está disposto a dar os 35 euros se a finalidade desta licença não for para a organização da prova, que já era paga anteriormente, mas se for para ser incluído no orçamento da FPA para apoiar outras modalidades que não seja o futebol", defende.
Domingos Castro, presidente da federação, esclareceu que a licença não é pedida aos organizadores das maratonas, apenas aos participantes, em entrevista ao jornal O Jogo. E refere que “a FPA quer que as pessoas tenham seguro todos os dias e, com os benefícios apresentados, os corredores acabam por não pagar nada”. Os benefícios em causa são um cartão de combustível e à a atribuição de um voucher de uma agência de viagens. "que ainda está em cima da mesa".
Mas para António Teixeira, essas ofertas não interessam, sendo a verdadeira razão para justificar o valor da licença "o gosto pela corrida e o apoio a atletas de uma modalidade que é subfinanciada".
Já Ana Morais, também uma presença assídua nas provas de corrida nacionais, não concorda com a medida. "Não faz sentido e pode afastar as pessoas que participam poucas vezes nestas provas", menciona ainda que as medida e as declarações da federação deixaram muitas dúvidas.
Em resposta aos benefícios usados pela federação para justificar a medida, a influencer de desporto Bárbara Koehler publica um vídeo nas redes sociais onde questiona: "Alguém pediu isto?".
As corridas, segundo a atleta, costumam estar entre os 15 a 35 euros. "Porque não aumentar o preço das inscrições, em vez de acrescentar mais uma taxa, por muito pequena que seja?", sugere. Depois de ter terminado a questionar a opinião dos seguidores, nos comentários lêem-se muitas criticas à licença.
A medida já é implementada noutros desportos e, segundo a FPA, ajuda a mitigar "o desinvestimento estatal no desporto". Em comunicado, refere ainda a importância do investimento nas infraestruturas e formação dos atletas, cada vez com melhores resultados.
Quando contactada pelo SAPO24, a FPA esclareceu que está a iniciar "o processo de reestruturação do Regulamento de Filiações, aprovando a criação de uma Licença para participantes em Provas pagas de Estrada, Trail e Montanha", e, por isso, não pode "avançar com mais informações".
Ficou assim por responde se a modalidade de pagamento diário permite o uso único da licença, permitindo pagar por prova apenas três euros. E ainda como é os atletas estrangeiros, que hoje participam em tantas provas em Portugal, vão ser incluídos na medida.
Quem tem de pagar a licença?
Atletas federados na FPA e de escalões jovens, até sub-18, não pagam qualquer valor. Devem, no entanto, ter o seguro válido obrigatoriamente.
Para que provas é preciso autorização?
Para participar em provas de estrada, trail e montanha será preciso pagar a licença à FPA. Devem ser corridas pagas e com classificação, com valor superior a 5 euros.
Para as provas com valor inferior a 5 euros, e sem classificação, não será preciso apresentar a autorização.
A medida entra em vigor na próxima época de 2025/2026.
Quanto custa a licença?
A licença pode ser paga por dia, pelo preço de três euros, que já inclui o seguro.
A versão anual custa 36 euros e inclui seguro para todo o ano, assim como um cartão de combustível. Segundo o jornal O Jogo, esta modalidade pode vir a garantir um cartão de combustível e um voucher de uma agência de viagens.
É ainda garantido o "acesso aos mais de 100 centros do Programa Nacional de Marcha e Corrida (acompanhamento por técnicos especialistas em marcha e corrida, treinos em grupo, actividade gratuitas e acesso às infra-estruturas disponíveis no centro), ao perfil e histórico de participações em provas certificadas, ao calendário oficial de atletismo e aos rankings nacionais", bem como "descontos nos produtos e serviços disponibilizados pela FPA e pelos seus parceiros", avança a FPA.
Como é emitida a licença?
A licença poderá ser comprada numa plataforma que está a ser preparada pela própria FPA, no Portal da FPA.
Quem fez a proposta?
A proposta foi apresentada pelas associações distritais de Setúbal e de Braga na Assembleia Geral da FPA e foi aprovada com 90% dos votos.
De acordo com a FPA, a intenção passa por promover uma prática mais segura, regulamentada e sustentada da modalidade, permitindo à FPA "controlar e validar todo o processo
regulamentar de inscrições".
Como vai ser fiscalizado?
De acordo com o comunicado emitido pela FPA, "será exigido ao atleta não federado, no acto da inscrição numa prova, o fornecimento do seu número de filiado na FPA, para concluir o processo. Caso não seja filiado, o atleta poderá completar o processo de forma célere através do Portal FPA, onde, se cumprir os requisitos em termos de documentação e mediante o pagamento de um valor de três euros, que já inclui o seguro, obterá de imediato o seu cartão digital de federado, podendo participar na competição em que se inscreve”.
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