Hoje tentamos perceber o que faz do Manchester United um clube diferente dos clubes por onde Mourinho já passou e voltamos a falar nas possíveis soluções para o treinador dar a volta à situação da equipa e se ainda irá a tempo de as fazer.
A particularidade do Manchester United
Eis a chave para perceber a tonelada de pressão a que o treinador está sujeito desde a passada terça-feira. Em todos os clubes por onde José Mourinho tem passado, não têm faltado críticos à forma como o técnico aborda os jogos. Em Manchester não é diferente. Onde quer que o treinador se tenha sentado no banco, a imprensa não lhe costuma dar tréguas; assim o foi em Portugal, Espanha, Itália e já o tinha sido, igualmente, em Inglaterra. Serão, portanto, os adeptos do United mais exigentes do que os adeptos de todos os outros clubes por onde Mourinho passou? Seguramente que não! De todos, até poderão ser, na verdade, os mais pacientes. Então o que torna, ou está a tornar, o United em tamanho desafio de pressão extra futebol? Na minha opinião, o prestígio e crédito que os críticos mais visíveis têm, e a quantidade dos mesmos a dar a sua opinião, nomeadamente, Roy Keane, Rio Ferdinand, Gary Neville, Paul Scholes e, por vezes, Ryan Giggs. Estes são apenas alguns, mas sem dúvida, os mais importantes, uma vez que são nomes extremamente respeitados pelos adeptos do United.
Assim, será que estaremos nós a colocar a causa do problema do United na pressão criada por outros? Não! Estaremos a dizer que a culpa de toda esta situação/pressão é dos comentadores? Obviamente que não! Mas estamos a apontar para o facto de que, noutro clube, por esta altura e com estes resultados, os adeptos ainda não teriam virado as costas ao treinador e que Mourinho teria um pouco mais de tempo para ponderar o que tem feito de bem e de mal.
As críticas após o jogo com o Sevilha choveram de todas as direções e não se pode propriamente dizer que o treinador português tenha feito tudo para as evitar. Antes pelo contrário. Dizer na conferência de imprensa que para o Manchester United, ser eliminado da Liga dos Campeões é algo de normal, não é mentira nenhuma, mas não ajuda à sua imagem. De todos os recados que o treinador envia nas conferências de imprensa, que me lembre, este é dos mais desajustados, já que o prejudica a si mesmo, perante o próprio clube e respetivos adeptos. Este parece ser o sinal mais evidente da pressão a que o treinador está sujeito neste momento e da forma menos boa com que o português tem lidado com essa mesma pressão ultimamente.
Com tudo isto, o ambiente em Inglaterra desde terça-feira está a ferro-e-fogo para os lados do português e as coisas não parecem ter melhoras à vista. Não só pelos críticos, como referido acima, terem uma influência grande sobre os adeptos, já que todos eles fazem parte de uma geração que ganhou tudo ao serviço do United e que está ainda bem presente na memória dos adeptos, como também, e para voltar ao início do artigo, o vizinho City pratica o melhor futebol alguma vez praticados pelos azuis de Manchester. Tal fator poderia estar a ser desvalorizado pelos adeptos, já que estes sentiam, como todos os outros, que a disponibilidade financeira dos rivais e a capacidade técnica de Pep Guardiola estão, de momento, muito acima, mas com o acumular de más exibições, eliminações, falta de coesão do grupo e criticas fortes de comentadores muito chegados ao clube, a paciência parece ter-se esgotado de forma repentina.
Será que existe uma solução?
Para quase tudo existe uma solução e neste caso não só existe, como é simples. José Mourinho terá que encontrar a chama e motivação que sempre o caracterizaram para poder voltar a colocar brevemente o seu nome e o do United na lista de campeões da Premier League. Mas essa chama será sinónimo de quê, exatamente? Essa é a questão que todos sabemos, mas que ao mesmo tempo ninguém tem a certeza.
Serão as contratações? Será a tática? Será a liberdade ofensiva dos jogadores? Será a tão famosa psicologia aplicada pelo treinador?
Três medidas obrigatórias para revolucionar o Manchester United.
1 - Contratações.
Mais do que saber se Paul Pogba foi demasiado caro, ou se com o dinheiro investido no mesmo o United poderia ter ido buscar dois ou três jogadores com outras características, é tentar perceber se o jogador se encaixa no estilo de jogo de José Mourinho. Se há uma regra de ouro que o português nunca quebrou com regularidade, foi ir buscar jogadores que não encaixassem no seu estilo de jogo. Poder de choque, reação rápida quer à perda, quer à conquista da bola, e pronto para dar 100% todos os dias. Não olhando apenas para Paul Pogba, mas sim para todo o plantel do United, diria que perto de 50% do plantel não cabe na descrição feita acima. As contratações e seleção de jogadores foram um problema e têm, urgentemente que ser repensadas.
2 - Estilo de jogo
Ao contrário do que muitos poderão pensar, principalmente ao ver o City jogar, não acho que a solução passe por copiar os azuis ou mesmo jogar um futebol mais atrativo. Mas parece-me que a solução poderá passar por otimizar o estilo de jogo. Acertando nas contratações, o estilo de jogo poderá surtir efeito. Relembre-se que no Real Madrid o treinador também foi acusado de não jogar um futebol vistoso e ainda assim quebrou o recorde de golos da La Liga, ultrapassando os 100 tentos no campeonato. Trazendo jogadores para emular a mesma capacidade de contra-ataque ou adaptando o estilo aos jogadores existentes, mas nunca encontrando um estilo híbrido, em que nem faz uma coisa, nem faz outra, que parece ser o que está a acontecer neste momento. A espaços na época passada, e também nesta época, a equipa conseguiu pressionar e sufocar alguns adversários mas a consistência e persistência nesse mesmo estilo de jogo não existiu e rapidamente desapareceu.
3 - União do grupo
Em todos os clubes Mourinho protegeu e atacou os seus próprios jogadores, não é novidade. Mas quando o sucesso teima em chegar - a Liga Europa por muito prestigiante que possa ser, não é suficiente para os adeptos do United - a situação fica mais complicada. E neste momento o que quer que o treinador diga parece ter um impacto negativo, quer para dentro (do qual nunca poderemos ter a certeza) quer para fora, onde a crítica tem falado mais alto. A psicologia de grupo terá que sofrer alterações e o treinador terá que afinar a sua própria receita de modo a que todos os jogadores abracem o objetivo comum da equipa. Não existe chama, os jogadores parecem correr obrigados, algo está muito mal nos diabos vermelhos.
O grande problema para Mourinho
Mesmo listando três medidas fundamentais para a revolução do United, o grande problema parece ser o facto de nenhuma delas poder vir a acontecer. Parece ser tarde de mais para que alguma delas funcione. Ora vejamos.
1 - Por muito que o United contrate melhor, desde a entrada de José Mourinho, já passaram quatro janelas de mercado. Todos os jogadores contratados, pareciam jogadores feitos para uma alteração do estilo de jogo do treinador português. As alterações a fazer na equipa para que esta se tornasse numa máquina de contra-atacar, de forma a encarar os jogos decisivos da época como os tem encarado esta temporada, teriam que ser inúmeras. E neste momento a realidade é apenas uma: é demasiado tarde. A estratégia de contratações parece-me ter sido idealizada para um modelo de jogo que não está ser colocado em prática e consequentemente, os reforços não estão a render o que poderiam render.
2 - Pelas mesmas razões apresentadas acima, parece-me ser tarde demais. As contratações estão diretamente relacionadas com o estilo de jogo e algo parece bater mal na ligação entre uma e outra. Como foi referido acima, os jogardes contratados não parecem os mais indicados para a forma como José Mourinho encara os jogos fulcrais da época e como tal as coisas não têm resultado. Mudando o tipo de jogadores ou o sistema de jogo apostaria sempre que Mourinho poderá mexer nos jogadores mas nunca nas suas crenças. Tendo já feito quatro janelas de transferência e sendo muito complicado mudar tantos jogadores, acho muito complexo a mudança de estilo de jogo, estando nós tão habituados ao ‘Modelo Mourinho’.
3 - Estará José Mourinho motivado o suficiente? E a razão para tal pergunta não vem pelos resultados em si, mas sim pela ineficácia em unir o plantel. Algo que nunca imaginámos acontecer em equipas de Mourinho e que ultimamente, quer no Chelsea, quer no Real Madrid, acabaram por acontecer. Está o português motivado o suficiente para dobrar este ‘calibre’ de jogadores, de forma a uni-los em volta de um só objetivo, o de lutar pela equipa? Muito honestamente o treinador não tem mostrado essa capacidade. José Mourinho não parece ter agarrado este grupo de trabalho da mesma forma que agarrou outros e não parece estar a ser capaz de lhe dar a volta.
A grande questão que fica no ar é: Serão estes os jogadores certos para emular o estilo de jogo e atitude necessários ao ‘Modelo Mourinho’? Os críticos e os adeptos exigem uma mudança de estilo de jogo, e o ‘Modelo Mourinho’ exige outro compromisso por parte dos jogadores.
Como acabará este braço-de-ferro entre o que uns querem e o que outros exigem?
Se juntarmos a tudo isto o facto de o Manchester City poder vir a tornar-se campeão, dentro de três jornadas, no jogo contra o Manchester United, o cenário pinta-se ainda mais sombrio. Se tal vier a acontecer e a direção do clube não estiver com José Mourinho e não acreditar nele como a solução de futuro, então o final de época poderá mesmo ser o início do fim para o ‘Special One’, como já anunciado em muitos tabloides ingleses.
Esta semana na FA Cup
Havendo pausa na liga para se jogar a FA Cup, chamamos à atenção para os quartos-de-final da mais antiga competição do mundo no futebol. No sábado dia 17, temos o Swansea de Carlos Carvalhal a receber o Tottenham pelas 12:15 e ainda o Manchester United, precisamente, a receber o Brighton às 19:45. Já no domingo, e para fechar a ronda, temos o Southampton de Cédric Soares a visitar o Wigan e também o confronto entre os últimos dois campeões da Premier League, com o Leicester a receber o Chelsea. Ambos a acontecerem pelas 13:30 e 16:30, respetivamente.
Comentários