“O desporto, sobretudo o futebol, tem dado uma contribuição muito grande para explicar às pessoas este vírus. Uns países pararam mais cedo que outros, mas as nossas federações tiveram uma atitude corajosa, criando condições para que o desporto não fosse um espaço de proliferação da doença por cá. Aliás, basta ver o que sucedeu em Itália e quantos jogadores estão infetados”, frisou o metodólogo do treino desportivo.
A Liga Portuguesa de Futebol Profissional suspendeu por tempo indefinido os dois principais escalões em 12 de março, dois dias após o grupo de emergência criado pela Federação Portuguesa de Futebol ter determinado que os jogos das competições profissionais fossem disputados à porta fechada, à semelhança de outras latitudes.
“Não tem lógica haver jogos com público, outros sem ninguém e ainda outros adiados. Nas provas europeias, criaram-se assimetrias ao incluir equipas em diferentes patamares. Tudo isto nas barbas da UEFA, cujas decisões só foram posteriores a certas federações e ao finca-pé de alguns clubes e serão julgadas no momento certo”, criticou.
Jorge Castelo exemplificou a noite de 11 de março, quando os espanhóis do Atlético de Madrid surpreenderam 52.000 espetadores em Anfield e eliminaram o campeão europeu Liverpool dos oitavos de final da liga ‘milionária’ (3-2 após prolongamento), dando sequência ao triunfo tangencial sobre os ingleses na primeira mão (1-0).
À mesma hora, os franceses do Paris Saint-Germain reverterem a desvantagem inicial frente aos alemães do Borussia Dortmund, de 1-2 para um 2-0 caseiro, num Parque dos Príncipes vazio, contexto repercutido em mais um encontro dos ‘oitavos’ da Liga dos Campeões e outros quatro jogos da mesma ronda na Liga Europa.
“Há uma coisa claríssima: a UEFA ficou à espera de que determinados clubes de peso tomassem decisões para depois ser empurrada a cancelar tudo isto. Sei que há muito dinheiro envolvido, mas foi um sinal muito mau da instituição que superintende o futebol na Europa e devia ser a primeira a dar o exemplo”, apontou.
O organismo presidido pelo esloveno Aleksander Ceferin decidiu cancelar todas as provas continentais em 13 de março, seguindo uma tendência iniciada por várias ligas domésticas, culminada na terça-feira com a remarcação do Euro2020 para o próximo ano, que concede margem aos clubes para “refletirem com clareza” a estratégia vindoura.
“Têm um ponto importante para retificar coisas que estão erradas e melhorar coisas que estão corretas, porque normalmente as decisões no futebol são feitas sob uma pressão enorme do tempo. Agora dispõem desse tempo todo, até para trabalharem cenários para a eventualidade de esta época terminar sem que o campeonato conte”, referiu.
À boleia do “lado negativo” ancorado pela Covid-19, o treinador, de 63 anos, valoriza “uma acalmia fantástica” manifestada pela indústria do futebol quanto à “tradicional agressividade nas redes sociais, nas televisões e dos clubes sobre os árbitros”, pois as conversas viraram agulhas para o debate sobre as implicações de um “terrível vírus”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19, infetou mais de 290 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 12.700 morreram.
O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se já por todo o mundo, incluindo Portugal, que contabiliza 1.280 infetados e 12 mortes.
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