Segundo jogo dos 16 avos de final da Liga Europa. O Sporting Clube de Braga viajava até Roma com dois golos em débito e creditados a favor dos italianos da Associazione Sportiva Roma.
Os Guerreiros do Minho subiram ao Estádio Olímpico de Roma vestidos de um branco angelical, camisola, calções e meias, por troca do habitual vermelho e branco arsenalista.
Novidade no manto que cobre o corpo e novidades no onze inicial. Carlos Carvalhal, deixou de fora o guarda-redes titularíssimo, Matheus, abrindo alas para Tiago Sá, dois jogos na Liga Europa já feitos, Fransérgio, Ricardo Horta e Al Musrati, para além do castigado, Ricardo Esgaio.
Chame-se gestão tática, física ou psicológica devido ao desgaste de competições. Certo é que cedo pareceu que Carvalhal, e toda a equipa do Braga, embora pudesse tentar fazer em campo alguma surpresa, a cabeça, de todos, parecia ter ficado em Portugal.
Por duas ordens de pensamento e razões. Há campeonato (domingo, deslocação à Madeira, onde defrontará, na Choupana, o Nacional) e, a 3 de março, na quarta-feira, há segundo jogo da meia-final da Taça de Portugal, no Estádio do Dragão, frente ao Porto, uma eliminatória empatada (1-1, em Braga).
Face ao exposto, obrigado a vencer em Roma (desvantagem de 0-2), o 3.º classificado da Liga NOS, levou o corpo (presente) para os limites do território Papal, mas o espírito (mente) parece nunca ter saído da cidade dos Arcebispos.
O sonho de uma possível qualificação (direta ou indireta) para a Liga do Campeões, estando à 20.ª jornada a um ponto do 2.º lugar (FC Porto) e com quatro de vantagem do 4.º classificado, o SL Benfica, pode ter levado a inquinar estratégias. Desportivas e, acima de tudo, financeiras.
Um pensamento um tanto ou quanto idêntico terá pesado na cabeça de Paulo Fonseca, treinador dos giallorossi, a braços com diversas baixas na linha defensiva, o calcanhar de Aquiles do conjunto da capital italiana.
A Roma, 4.º classificado da Serie A, recebe o Milan, 2.º, na 24.ª jornada da Liga italiana, numa partida que coloca no tapete verde a equipa com mais pontos em casa (30), os romanos, frente ao conjunto com mais pontos somados fora de casa, os milaneses.
Jogam de forma cínica, devagar, adormecem, marcam e voltam a adormecer
"Ora estamos em vantagem, não vale a pena correr muitos riscos", terão pensado os múltiplos internacionais de vários países que jogam no clube transalpino. Apesar de treinados por um português, o lado cínico que caracteriza as equipas italianas (Ricardo Horta falou dessa característica na flash interview) vem sempre ao de cima quando se trata de ganhar jogos ou eliminatórias.
A Roma atacava, pela certa, quase sempre pelo lado esquerdo do ataque e ganhava cantos. O Braga falhava passes.
Aos 22 minutos, Stephan El Shaarawy (de regresso à Roma depois de dois anos na China, no Shanghai Shenhua) rematou ao poste e, na recarga, Edin Dzeko levou a bola a beijar as redes, não sem antes embater de novo, de raspão, no poste. O avançado bósnio repetia o que já tinha feito em Braga e subiu para 3 os golos marcados em 6 jogos da Liga Europa.
À meia hora, o Braga lembrou-se que ainda faltava muito tempo para regressar a Portugal e os seus jogadores decidiram "entrar" na montra da Liga Europa. Lucas Piazón, reforço de inverno, dá o primeiro sinal com uma "rosca", após bonita jogada coletiva ao primeiro toque, de ponta a ponta até parar no meio da área. O ex-Rio Ave repete a graça, numa jogada individual, com o remate frontal.
Andraz Sporar, à procura do primeiro golo vestido de minhoto, beneficia de um mau atraso, engana Cristante e desfere um remate que viria a terminar em canto.
Sentindo-se apertado pela resposta fugaz dos visitantes, o espanhol Pedro Rodriguez, sozinho no coração da área, atira à trave. Um aviso à navegação minhota.
Gaitán. O senhor 60 minutos
A substituição de Gonzalo Villar por Lorenzo Pellegrini (um dos 18 internacionais da Roma) foi a novidade do regresso dos balneários.
Cinco minutos do segundo tempo, Sporar, tal como na 1.ª mão, volta a cair na área a pedir penalidade, no instante que sente um bafo alheio. Viria a repetir o gesto cinco minutos depois do lance e cinco minutos antes de ser substituído.
A Roma adormecia o jogo e a ela própria.
Fonseca volta a mexer, tira o marcador do golo, El Shaarawy (entrou Carles Pérez) e o amarelado Jordan Veretout (Leonardo Spinazzola). Dois coelhos da cartola, como se verá.
Responde Carvalhal. De uma assentada foi ao banco e meteu os titulares Fransérgio, Ricardo Horta (13 golos, melhor marcador na história do Braga, na Europa) e Abel Ruiz, para os lugares de Piazón, Sporar, esloveno emprestado pelo Sporting e Gaitán, o jogador "60 minutos".
Mais que a tentativa de disputa do jogo, dar minutos de treino aos habituais jogadores arsenalistas para os desafios que se avizinha pode ter pesado na decisão.
As estrelas de Paulo Fonseca e a estreia de quem veio do campeonato de Portugal
Dzeko, o veterano balcânico de 34 anos, sentido de dever cumprido, disputou uma bola em corrida junto à linha final, retraiu-se assim que esta saiu, apontou para a virilha e pediu substituição (entrou Borja Mayoral, 4 golos na competição europeia). Não dá mais, podia-se ler no rosto de quem já pensa no jogo com o AC Milan. Mais outra jogada certeira de Paulo Fonseca, a saber dentro de instantes.
No ping pong do banco, entra Borja para o lugar de Sequeira e, nem 10 segundos, o ex-Sporting perdeu a bola e obriga João Novais a cometer penalidade sobre Carles Pérez.
Estavam decorridos 72 minutos. Pellegrini, com vagares, quis tanto colocar a bola fora do alcance de Tiago Sá que esta nem à baliza chegou.
Dois minutos depois, redimiu-se. Um passe teleguiado para a bota de Pérez, que ao segundo poste, colocava o resultado nos mesmos números da partida em Braga. 2-0.
Se dúvidas houvesse que a cabeça dos jogadores do Braga tinha alguma vez subido ao Olímpico de Roma, o fosso de quatro golos dissipou-as.
A Roma substituía estrela por estrela (Pedro Rodriguez por Henrik Mkhitaryan). O Braga trocava tudo por miúdos. Galeno testemunhou a estreia de Hernani Infande, jogador que saltou da equipa B para a Liga Europa em quatro dias.
Numa subida à área contrária, na marcação de um canto, Tormenta, num movimento rotativo, à ponta de lança, obriga a defesa apertada de Pau López. E estava dado um sinal para o merecido golo (na junção dos dois jogos) que, ainda assim, viria a ser um autogolo de Cristante, após cruzamento de Zé Carlos. Foi feita alguma justiça que dava uma maquilhagem à eliminatória.
A bola era trocada entre as botas italianas, cheirava a fim de jogo, mas este só acaba com o apito final. No período de descontos, após cruzamento de Spinazzola Mayoral selou o 3-1 (5-1 no conjunto das duas mãos).
O Braga, cumpriu calendário europeu, despedia-se de Roma e regressa a Bracara Augusta. Onde tem um calendário, apertado, pela frente.
Com este resultado, os arsenalistas voltam a não conseguir passar os 16 avos de final da Liga Europa. A última vez que tal sucedeu tinham, curiosamente, tinham Paulo Fonseca ao leme, em 2015- 2016, ano em que foram eliminados pelos ucranianos do Shakhtar.
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