
“Quando o caso foi tornado público, sentimos mais revolta do que preocupação, até porque sabemos que muitas vezes isto se reflete em campo. A revolta foi grande internamente, mas o foco passou a ser dentro do campo”, disse Rui Costa, acrescentando: “Tememos o medo que os árbitros poderiam ter a apitar jogos do Benfica”.
Quando foi conhecida a existência de um alegado ‘Saco Azul’ no Benfica, alguma comunicação social indicou que o mesmo poderia ter sido usado para corromper árbitros, algo que não consta na acusação, como o juiz Vítor Teixeira e Costa fez hoje questão de frisar.
“A acusação não faz a relação entre o dinheiro e o seu uso”, disse o presidente do coletivo de juízes, durante a inquirição do líder dos ‘encarnados’.
Rui Costa, o primeiro a depor, na qualidade de representante da SAD do clube, garantiu que nada o leva a crer que os contratos em causa “não tenham sido úteis e importantes para o clube, admitindo que “muitos dos contratos eram assinados sem passar pelo Conselho de Administração”, e que muitas vezes era feita uma súmula dos mesmos por Miguel Moreira, à data diretor financeiro (CFO) dos ‘encarnados’ e também arguido no processo.
“Grande parte desses contratos passava pelo Miguel Moreira, ele tinha autonomia, o Luís Filipe Vieira [presidente do clube à data dos factos] não tinha conhecimentos de tecnologia informática (IT)”, afirmou Rui Costa, que garantiu “nunca ter tido conhecimento da circulação de grandes quantidades de dinheiro vivo” no clube.
Neste processo, que começou hoje a ser julgado no Juízo Central Criminal de Lisboa, está em causa um alegado esquema de pagamentos fictícios a uma empresa de informática externa ao grupo Benfica, a Questãoflexível, num valor que ultrapassa 1,8 milhões de euros.
Na sessão da tarde foram ouvidas, durante mais de duas horas, as declarações de José Bernardes durante a fase de instrução, sendo que, depois, perante o coletivo, o arguido respondeu a várias questões, mas não quis falar sobre as transferências de dinheiro do Benfica para a empresa.
José Bernardes, da empresa QuestãoFlexível, admitiu que, “relativamente a contratos, falava sempre com Miguel Moreira”, e garantiu que nunca esteve com Luís Filipe Vieira, que liderou o clube entre 2003 e 2021.
O arguido explicou detalhadamente a cedência de posições em duas empresas relativamente a serviços prestados ao Benfica, bem como a criação da empresa QuestãoFlexível Lda, criado por ele e pela mulher e que tinha o Benfica como único cliente.
José Bernardes continuará a ser ouvido na próxima sessão, marcada para 08 de maio, na qual falará também Luís Filipe Vieira, arguido e presidente do clube à data dos factos.
De acordo com a acusação, confirmada em junho do ano passado por um juiz de instrução, o ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira é suspeito de três crimes de fraude fiscal qualificada e 19 de falsificação de documento, assim como Domingos Soares de Oliveira, antigo administrador — que está fora do país e só marcará presença em tribunal em julho – e o ex-diretor financeiro do clube Miguel Moreira.
Os mesmos crimes são também imputados em coautoria com a empresa QuestãoFlexível, da qual é proprietário o empresário José Bernardes, que vai responder também pelo crime de branqueamento de capitais.
Num processo no qual são também arguidos Paulo Silva e José Raposo, a Benfica SAD está acusada de dois crimes de fraude fiscal qualificada e a Benfica Estádio de um crime de fraude fiscal e 19 de falsificação de documento.
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