“Eu sempre disse que queria acabar a carreira em Paris, não neste estado, era a andar a lutar pelo grupo da frente, mas o destino quis que eu terminasse de outra forma. Eu aceitei o que me foi proposto e estou muito feliz”, declarou no final a marchadora portuguesa, que, aos 40 anos, se despediu da competição, numa corrida em que foi 43.ª.
Muito emocionada, Ana Cabecinha, que tem no seu currículo cinco participações em Jogos, com diplomas em Pequim2008, em que foi oitava, e em Londres2012 e Rio2016, nos quais foi sexta, manifestou a felicidade de ter cumprido o objetivo, mesmo depois de ter sido mãe há menos de três meses.
“Estou muito feliz por não ter baixado os braços, por ter todos os dias um bebé em casa tranquilo, que me tem deixado poder treinar e descansar. É a melhor medalha que uma mulher pode ter e culminar o fim de carreira aqui, com toda a família e com o meu filhote da parte de fora, é melhor do que aquilo com que sonhei”, disse a atleta do Clube Oriental de Pechão.
Apesar do 43.º posto e de ter ficado a 20.36 minutos da vencedora, a chinesa Yang Jiayu, a atleta portuguesa recebeu uma das maiores ovações do dia.
“Parecia que tinha ganho a prova e foi maravilhoso. Só tenho que agradecer a todos os adeptos da marcha que estavam no percurso, tenho que lhes agradecer, a portugueses e não portugueses. É bom saber que a minha carreira valeu a pena, deixar a marca na marcha valeu a pena, estes 28 anos valeram a pena, e estou muito, muito feliz”, afirmou.
A outra marchadora presente na corrida, Vitória Oliveira, que concluiu a prova no 38.º lugar, a 10.28 minutos de Yang Jiayu, reconheceu que desejava uma prestação melhor.
“Quando cá chegamos, queremos sempre mais e melhor, trabalhamos para isso. O meu balanço, acima de tudo, é positivo, trabalhei muito para chegar aqui, sinto que cheguei com mérito. Sou atlética olímpica, é a minha estreia”, disse a marchadora lisboeta, salientando a sua estreia em Jogos.
Vítória Oliveira, de 31 anos, admitiu ter sentido alguma ansiedade no início: “Dei o meu melhor, mas, cedo na prova, comecei a sentir-me mal, um conjunto de ansiedade, a competição e da temperatura que se fazia sentir no percurso, que era péssimo. Acho que, enquanto competição olímpica, merecíamos um percurso melhor. Infelizmente é o pior que levo daqui, o percurso, mas saio extremamente feliz, porque terminei a minha estreia olímpica”.
A atleta do Benfica manifestou ainda a pena por ter testemunhado a última prova de Ana Cabecinha.
“Nunca escondi que, para mim, a Ana é como uma madrinha, uma mentora. Sem dúvida que é o maior exemplo que eu levo na marcha. Tenho muita pena que seja a última prova da Ana, ela ensinou-me muito e mais de metade do meu caminho até aqui é graças a ela”, disse em relação à sua companheira na prova, a qual recebeu na linha de meta com um emocionado abraço.
Vitória Oliveira foi hoje 38.ª na prova feminina dos 20 quilómetros marcha dos Jogos Olímpicos Paris2024, com o tempo de 1:36.22 horas, enquanto Ana Cabecinha foi 43.ª, com 1:46.30.
A chinesa Yang Jiayu sagrou-se campeã olímpica, com 1:25.54, enquanto a espanhola Maria Perez foi medalha de prata, a 25 segundos, e a australiana Jemima Montag arrebatou o bronze, a 31.
Vítor Rodrigues, da agência Lusa
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