Desde maio que por toda a cidade a pergunta é feita a quem passa: “Are you R’Eddy?”. O trocadilho, que combina a expressão ‘Are you ready’ (está preparado?) com o nome do melhor ciclista belga de todos os tempos, Eddy Merckx, ganhou protagonismo adicional nos últimos dias, com Bruxelas a alterar quase todas as suas rotinas para receber a maior prova do calendário velocipédico internacional.
Para quem nunca esteve na partida da ‘Grande Boucle’, os factos que se seguem podem parecer estranhos, mas o impacto da passagem do Tour pelo coração da União Europeia é tal — as autoridades bruxelenses estimam um retorno económico na ordem de 50 a 60 milhões de euros, ‘originado’ pelas pernoitas de cerca de um milhão de espectadores -, que mesmo os hipermercados da capital aconselharam os seus utentes a realizarem as compras semanais até sexta-feira.
E as alterações estão longe de ficar por aí. Com quase toda a cidade fechada ao trânsito, as emissões de rádio ‘convidam’ os interessados a deixar o carro em casa e todas as paragens de autocarro alertam para a alteração de rotas, em alguns casos completamente anuladas entre a véspera da partida e domingo, dia em que o contrarrelógio por equipas chegará ao Atomium, o palco da única outra saída da Volta a França da capital belga — foi em 1958, ano da Exposição Universal, e da inauguração daquele que é, a par do Manneken Pis (também ele vestido de amarelo por estes dias), o maior símbolo de Bruxelas.
Extensível desde o Atomium, ele próprio ‘equipado’ com roupagens novas para celebrar a passagem da caravana e dono de uma vista privilegiada para o rosto de Merckx, estampado em formato gigante diante do complexo de edifícios que albergou a Exposição Universal, a ‘febre’ do Tour não deixa ninguém indiferente, com as empresas de mudanças a cancelarem todas as empreitadas agendadas para sábado e domingo e a adiarem-nas indefinidamente, devido à escassez de sinalizações de segurança à disposição da polícia da capital.
Nem mesmo as linhas de elétrico que serpenteiam por paragens onde o metro, o aconselhado (e grátis) meio de transporte para estes dias, não chega, escaparam ao desejo dos belgas de celebrarem o 50.º aniversário da primeira das cinco vitórias do ‘Canibal’ na Volta a França e o centenário da camisola amarela — para os verdadeiros fãs, o Espace Wallonie, ao lado da Grand Place, oferece uma exposição que presta homenagem aos 15.059 corredores que alinharam na prova e particularmente aos 3.228 campeões que vestiram a mais emblemática das camisolas da modalidade.
As autoridades da capital identificaram sete cruzamentos perigosos para os ciclistas e decidiram tapar 600 metros de carris de elétricos com borracha, posteriormente coberta com fita antiderrapante, para evitar quedas no pelotão. A operação, asseguravam antes do evento, demoraria uma hora a ser efetuada, e seria revertida em não mais do que 30 minutos no domingo, quando a caravana rumasse na direção de Liège.
“Acolher a Volta a França é a melhor publirreportagem que poderíamos ter”, declarou o burgomestre da capital, Philippe Close, em entrevista na quarta-feira ao diário Le Soir, assumindo que a prova vai ajudar a demonstrar que Bruxelas não é apenas uma cidade administrativa, mas sim uma cidade cheia de oportunidades e atividades a descobrir.
Hoje, o pelotão dá as primeiras pedaladas da 106.ª edição na Place Royale, ponto de partida da primeira das três etapas da ‘Grande Boucle’ em solo belga. Desde 2010 que o Tour não passava na capital belga, que até hoje viu passar a prova rainha da modalidade 11 vezes.
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