Os professores e os profissionais de educação voltaram a manifestar-se em Lisboa no mesmo dia que o movimento “Vida Justa” saiu à rua em protesto contra o aumento do custo de vida.
Os organizadores do movimento temiam que os dois protestos se anulassem um ao outro, mas tal não se verificou. Na verdade, a união de ambos os protestos acabou por se complementar.
Se de um lado, os professores reclamam por “respeito” e "justiça" face ao tempo de serviço que o Estado lhes “congelou” - nos tempos da Troika -, do outro lado, os cidadãos reclamam contra o aumento do custo de vida que afeta a todos, incluindo os professores.
“Esta manifestação tem a ver com todos os portugueses e por isso, não há distração, são tudo parte do mesmo problema”, respondeu o presidente da Associação de Vizinhos de Arroios quando questionado, ao início da tarde, se estava preocupado com a outra manifestação [STOP] que ocorria ali ao lado.
“A união faz a força, por isso complementam-se”, respondeu à reportagem da SIC Notícias na praça do Marquês de Pombal onde centenas de pessoas concentraram-se hoje para uma manifestação que terminou junto à Assembleia da República. Justamente o mesmo local de término da manifestação do STOP.
O presidente da Associação de vizinhos de Arroios, afirmou ainda que mais de 20 mil pessoas estão em condições de habitabilidade pouco dignas, vivem em quartos e habitações partilhadas e "exploradas de forma abusiva” pelos senhorios que tentam maximizar os lucros. “A habitação é um direito e não pode ser sujeita à inflação”, disse.
Promovida pelo Movimento Vida Justa, o protesto reuniu sobretudo as populações dos bairros periféricos da capital para reivindicar “ação política”, incluindo “salários para viver” e acesso à habitação digna a preços justos.
Várias associações cívicas juntaram-se à marcha, incluindo partidos políticos e o secretário-geral da Fenprof, que se juntou ao Movimento Vida Justa por entender que o que está em causa afeta todos os portugueses, "incluindo os professores", afirmou Mário Nogueira à reportagem da RTP 3.
Mais importante que a adesão ao protesto de hoje é dar-lhe continuidade, afirmou Rui Estrela à agência Lusa, um dos responsáveis pelo movimento cívico. “Esta manifestação é a forma mais sonante de dar início ao processo de reivindicações junto do poder político”, acrescentou.
“Lutar, lutar, para a fome acabar. Lutar, lutar, queremos casas para morar”, foi uma das frases de ordem que se fizeram ouvir ao longo do percurso das centenas de pessoas e associações cívicas.
“Estou aqui porque estamos num ponto que está ridículo no que diz respeito à habitação. Não há mão nisto, não há maneira de conter o caos absoluto. O governo tem de garantir habitação acessível”, disse um dos manifestantes.
A opção em terminar o protesto na Assembleia da República, pelo Movimento, foi por ser “o espaço que deve ser permeável às propostas e à voz dos cidadãos”.
“São vários bairros que estão aqui presentes, não nos interessa o número das pessoas que aqui estão hoje, o importante é que as pessoas participem. Estamos a lançar uma petição com a questão da habitação, dos preços, da documentação das pessoas que trabalham cá sem condições. Vamos lutar por isso. Os bairros estão em luta porque, normalmente, ficam de fora do discurso político, concluiu Rui Estrela à porta da Assembleia.
À quarta [do STOP] ainda não é de vez, mas há esperança
Na reta final da 4.ª manifestação do STOP, os professores fizeram um pequeno interregno na marcha para dar tempo à dispersão do Movimento Vida Justa, que já tinha chegado à porta da Assembleia da República. A preocupação da PSP era manter as manifestações separadas, embora os organizadores tenham pedido que se juntassem, pois os “problemas são comuns”, afirmou André Pestana.
Previamente, as duas organizações combinaram que fariam percursos diferentes, o que se verificou, excepto o término da marcha organizada pelo STOP que, segundo o Vida Justa, terminaria na residência do primeiro-ministro e não no parlamento.
“A carestia de vida prejudica não só os profissionais da educação, mas toda a sociedade (…) e os nossos salários não têm aumentado”, defendeu André Pestana, sobre o facto de hoje estarem a decorrer duas manifestações em Lisboa.
De acordo com o responsável do STOP, a opção pela escolha do dia de hoje para a manifestação foi feita pelas várias comissões do sindicato, com conhecimento de que havia uma outra manifestação a decorrer.
“Vamos estar também a convergir com eles, à frente da Assembleia da República e porque achamos que as lutas ficam mais fortes unidas e esperamos que seja um dia que marque de uma vez por todas, que a população, apesar da maioria absoluta que o Governo tem no parlamento, nas ruas a maioria absoluta é de quem trabalha”, afirmou.
Dispersada a primeira manifestação, os cerca de 50 mil professores que partiram do Palácio da Justiça, ao cimo do Parque Eduardo VII, em direção à Assembleia da República - com passagem pela residência oficial do primeiro-ministro -, reuniram-se em frente à casa da democracia.
“Um, dois, três, já cá estamos outra vez, quatro, cinco, seis estamos fartos de papéis, sete, oito, nove, ninguém nos demove” foi a frase de ordem que professores e profissionais da educação gritaram hoje em Lisboa.
Os professores estão em protesto há largos meses, muitos demonstram "frustração", sobretudo pela forma como o Ministério da Educação tem conduzido as negociações com os sindicatos.
É uma "frustração completa, trabalhamos dia a dia e ninguém nos ouve”, disse um professor. “A educação é a base da sociedade e se o ministro da educação e António Costa não olhar para isso, vão ter um país mais pobre", disse outra docente. “Queremos recuperar aquilo que nos foi roubado, a escola está em luta”, acrescentou um manifestante.
“Não estamos a ser ouvidos, mas não vamos parar”, prometeu uma professora horas antes das palavras do Presidente da República que acredita que os professores "terão sucesso nas negociações, qualquer que seja a fórmula, chegarão a acordo", disse, esperançoso, Marcelo Rebelo de Sousa.
*com Lusa
Comentários