A notícia foi confirmada esta manhã pela Santa Sé, mas ainda não é conhecida a data da canonização.
"Durante a audiência concedida a Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, o Sumo Pontífice autorizou o mesmo Dicastério a promulgar" o decreto relativo ao" milagre atribuído à intercessão do Beato Carlo Acutis, fiel leigo; nascido a 3 de maio de 1991 em Londres (Inglaterra) e falecido a 12 de outubro de 2006 em Monza (Itália)", vítima de leucemia.
O milagre em causa aconteceu a 8 de julho de 2022. Liliana, uma mulher mulher costa-riquenha, foi a Assis, onde se encontra sepultado Carlo Acutis, para rezar pela sua filha, vítima de um grave traumatismo craniano, após uma queda de bicicleta.
A mulher entregou uma carta com o seu pedido e, nesse próprio dia, o hospital onde a filha estava internada informou que esta começou a recuperar, quando a esperança de sobrevivência era quase nula. Uma TAC realizada pouco depois do pedido de intercessão não mostrava sequer vestígios de hemorragias. Um mês depois, a rapariga curada foi com a mãe a Assis.
Logo depois da sua beatificação, a 10 de outubro de 2020, o Papa Francisco dedicou-lhe algumas palavras. Carlo Acutis "não se acomodou numa imobilidade confortável, mas colheu as necessidades do seu tempo, porque viu o rosto de Cristo nos mais frágeis. O seu testemunho mostra aos jovens de hoje que a verdadeira felicidade se encontra pondo Deus em primeiro lugar e servindo-O nos irmãos, especialmente nos últimos. Um aplauso ao novo jovem beato da geração atual!".
Entre os futuros santos está também o padre Giuseppe Alamano (1851-1926), fundador do Instituto missionário da Consolata, com uma significativa presença em Portugal e em países de expressão portuguesa.
Como se chega a santo?
Analisar processos de beatificação e canonização não é tarefa fácil: são investigações morosas, detalhadas e cuidadas. Atestar que uma pessoa participa da santidade também não pode ser um salto para o vazio. Por isso, existe o Advogado do Diabo, o Promotor da Fé, que garante que todas as informações sobre o candidato a santo foram esmiuçadas, de modo a não existirem erros ou pontas soltas, rodeando-se de vários consultores teólogos.
Habitualmente, quem “está mais próximo da pessoa pode detetar que esta é excecional e tem um maior contacto com Deus”, começa por dizer. “Às vezes são experiências que se partilham na família, com os amigos. ‘Olha, conheci aquele padre que é excecional, se calhar vai lá ver’. E são o tipo de fenómenos que começam a atrair, a atrair, a atrair. E quem diz um padre, diz outro cristão. E isto, pouco a pouco, vai gerando uma perceção de que há ali mais qualquer coisa. Qualquer coisa que não é ‘mafiosa', é qualquer coisa ‘sobrenatural’", explicava em 2018 ao SAPO24 o padre Miguel de Salis Amaral.
Depois, "isto chega aos ouvidos do Bispo, normalmente depois da morte [do candidato]. Por exemplo, às vezes as pessoas vão rezar ao túmulo dessa pessoa, põem flores, vê-se que é um túmulo muito visitado. Como no caso do Padre Américo, no Porto, e do Padre Cruz, em Lisboa. Uma pessoa vai ao jazigo em Benfica e vê-se que ali há esse mais qualquer coisa. Mas ainda não é santo. Penso que ainda há pessoas vivas que o conheceram. Com a Jacinta e o Francisco, antes da canonização que vivemos [em maio de 2017], aconteceu a mesma coisa. Havia esta perceção. É o que se chama a fama de santidade”, explica.
E esta fama vai correndo de boca em boca. “É uma coisa que funciona naturalmente. (...) Depois, vê-se que as pessoas rezam e que começa a haver favores — as pessoas rezam a pedir um favor: 'cura ou pede a Deus que cure a minha sobrinha, a minha filha’. E aquela pessoa fica curada e vai-se agradecer”, acrescenta.
Quando a fama de santidade é grande, é pedido ao Bispo que abra "a causa” na Diocese em que a pessoa morreu — se corresponder ao local onde esteve mais tempo, porque “as testemunhas estão todas aí”. “Abrir a causa é como um processo [judicial], como podia ser num tribunal qualquer. É uma investigação sobre se aquela pessoa de facto viveu perto de Cristo, unida, amiga de Cristo. Uma pessoa que tem as virtudes naquilo a que se chama um grau heroico. É o excecional”.
O passo seguinte é a documentação. Mas cada caso é um caso, e nem sempre está dependente da notoriedade ou exposição pública da pessoa. “Até pode ser mais fácil montar o processo, por exemplo, de uma freira que viveu num convento, que entrou jovenzinha e morreu com 25, 30 anos. O arco das pessoas com quem ela conviveu é muito pequeno, vai ser muito fácil fazer os interrogatórios, recolher a documentação, porque ela não se mexeu muito; esteve naquele convento. Com um político ou um pastor da Igreja muito conhecido, que viajou, que esteve aqui e ali, que passou por trinta por uma linha e se saiu bem, há mais material para recolher, e portanto é preciso ouvir mais pessoas que possam dizer: ‘ele de facto viveu muito bem a fé, a esperança e a caridade, foi uma pessoa justa, prudente, forte, temperante’. Pergunta-se a cada um: ‘olhe, mas diga lá, como é que ele via a fé?’. ‘Ah, ele vivia muito bem a fé’. Mas o quê que isso quer dizer em concreto? E a pessoa tem de explicar um pouco. ‘Ele era uma pessoa que rezava todos os dias. E eu lembro-me, quando acontecia alguma coisa, o primeiro pensamento dele era rezar por isso’", exemplifica o Pe. Miguel.
Ouvem-se muitos testemunhos até que o Papa faça o “decreto das virtudes heroicas”. Aí, o Santo Padre “decreta que a partir de agora já não vamos rezar mais por essa pessoa, porque já se vê que está no céu. A partir do momento em que há as virtudes heroicas, essa pessoa já não tem as missas de defuntos, já não se reza pela alma dela”.
Tendo o decreto, falta apenas a assinatura. “O milagre é a assinatura de Deus no decreto, podemos dizer assim. Aquela pessoa rezou a esta pessoa virtuosa e pediu-lhe esta graça, e foi-lhe concedida — normalmente são questões de saúde, aquelas que medicamente se podem verificar com mais facilidade”.
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