Num momento quase sem precedentes para a democracia norte-americana, e quando o magnata tenta regressar à Casa Branca, Trump compareceu pela primeira vez como testemunha num tribunal de Nova Iorque, acusado de ter inflacionado colossalmente o valor dos seus ativos imobiliários, como a Trump Tower, para conseguir, por exemplo, melhores empréstimos bancários.
O ex-presidente chegou poucos minutos antes do início da sessão, agendada para as 10:00 (hora local, 15:00 em Portugal continental), respondendo detalhadamente a cada pergunta feita pelo procurador Kevin Wallace, numa sala lotada do tribunal de Manhattan, onde prestou juramento, com a mão erguida.
Depois de duas horas, o tempestuoso bilionário acabou a lançar diversas investidas contra a procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, que deu início ao caso e que classificou como “uma política mesquinha”, e contra o juiz Arthur Engoron.
“É realmente um julgamento muito injusto e espero que as pessoas vejam isso”, disse Trump, enquanto o juiz, com quem mantém uma má relação desde o início das audiências, em 2 de outubro, lhe pediu várias vezes para dar respostas mais curtas.
“Não estamos numa reunião política”, alertou o magistrado, que, desde a abertura do julgamento, já lhe aplicou duas multas, de cinco mil e 10 mil dólares (4.600 e 9.300 euros), por atacar o seu escrivão.
Neste caso, a procuradora-geral Letitia James, uma autoridade democrata eleita, abriu um processo civil contra membros da Trump Organization, acusando o magnata e os seus filhos mais velhos de terem sobrevalorizado os ativos do grupo – uma miríade de empresas que gerem arranha-céus, hotéis e residências de luxo ou campos de golfe - para obter melhores empréstimos bancários e condições de seguro mais favoráveis.
Ao chegar ao tribunal, Donald Trump, o grande favorito nas primárias republicanas para as eleições presidenciais de 2024, voltou a colocar-se como vítima de uma “guerra política” e de uma trama jurídica digna, segundo ele, de um “país do terceiro mundo e de Repúblicas das bananas”.
Mas, dentro da solene sala de audiência do tribunal, Trump, de fato azul-marinho, com uma gravata a combinar, argumentou com os braços cruzados, discutindo o valor do seu império, como a sua opulenta residência em Mar-a-Lago, na Florida, e garantindo que os ativos estavam, pelo contrário, “subvalorizados” e que os bancos fizeram bons negócios ao emprestar-lhe dinheiro.
O magnata, que solidificou a sua carreira no ramo imobiliário antes de entrar na política e abalar as instituições americanas, destacou o valor da “marca Trump”.
“Tornei-me Presidente [dos Estados Unidos] graças à minha marca”, disse, acrescentando: “É um julgamento louco”.
Esta é a primeira vez em mais de 100 anos que um ex-presidente é chamado a testemunhar em sua defesa num julgamento, desde Theodore Roosevelt na década de 1910.
Ao contrário dos outros quatro processos criminais em que é acusado, Donald Trump não enfrenta pena de prisão neste julgamento civil, mas as possíveis consequências para os seus negócios são elevadas e o caso já começou mal.
Ainda antes do início do julgamento, o juiz estimou que a Procuradoria-Geral do Estado de Nova Iorque apresentou “provas conclusivas de que, entre 2014 e 2021, os arguidos sobrevalorizaram os ativos” do grupo em 812 milhões a 2,2 mil milhões de dólares (756 milhões a 2,1 mil milhões de euros), dependendo do ano, nos valores registados nas demonstrações financeiras anuais de Donald Trump.
Como resultado de “repetidas fraudes”, o magnata republicano poderá perder o controlo de parte do seu império imobiliário, numa decisão que ainda aguarda recurso.
Este julgamento é apenas um dos primeiros testes legais que Donald Trump enfrentará. O candidato republicano deve comparecer no tribunal federal de Washington, por exemplo, a partir de março de 2024 pelas suas supostas tentativas de reverter o resultado das eleições de 2020.
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