A cimeira do G20 que decorre em Osaka, no Japão, na sexta-feira e sábado, será o próximo palco para uma tentativa de distensão no Médio Oriente, depois de o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que presidirá ao encontro, ter afirmado quarta-feira que pretende ajudar a procurar consensos entre as partes.
Os EUA têm dado sinais desencontrados sobre a sua posição perante o Irão, deixando a comunidade internacional confusa sobre o desenrolar dos acontecimentos no Golfo.
O conflito tem origem no abandono dos EUA do tratado nuclear com o Irão, em 2018, considerando que este país árabe não respeitara os pressupostos do acordo.
Em junho passado, o Irão anunciou que iria acelerar a operação de enriquecimento de urânio, acima dos limites impostos pelo acordo nuclear que tinha assinado em 2015, levando os Estados Unidos a aumentar as sanções e a reforçar a sua posição militar na região do Golfo.
Na terça-feira, durante uma visita não anunciada ao Afeganistão, o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, disse que os EUA estavam apostados em “criar estabilidade no Médio Oriente”, repetindo a mensagem de que procurariam evitar um conflito militar com o Irão.
Horas depois, o secretário interino da Defesa norte-americano, Mark Esper, transmitiu a mesma mensagem e apelou ao “caminho diplomático”, para procurar soluções para o conflito com o Irão.
Mas no mesmo dia, o Presidente Donald Trump avisou Teerão que qualquer ataque contra interesses norte-americanos resultaria na “obliteração” de partes do Irão, avisando de que os EUA têm o “mais poderoso exército do mundo, de longe”.
A declaração de Donald Trump seguiu-se ao anúncio, segunda-feira de novas sanções económicas contra o Irão, mas também poucos dias depois de o Presidente dos EUA ter mandado recuar uma operação militar de retaliação contra o abate de um drone norte-americano.
No final da passada semana, Trump admitiu negociações com o Irão, “sem condições prévias”, garantindo que os EUA não pretendiam entrar num conflito militar.
Mas o Presidente norte-americano endureceu as palavras, na terça-feira, dizendo que não havia condições para qualquer negociação e ameaçando com um ataque devastador, se algum interesse norte-americano fosse atingido.
Do lado de Teerão, os avanços e recuos norte-americanos são entendidos como “sinal de desorientação” por parte da Casa Branca, que acusa de estar “mentalmente incapacitada”.
O Presidente do Irão, Hassan Rouhani, disse esta semana que as sanções impostas por Washington eram “ultrajantes e idiotas” e que revelavam a incapacidade dos EUA para isolarem o seu país.
“Como é que esperam agora que queiramos voltar a negociar?”, interrogava-se Rouhani, numa entrevista televisiva, divulgada terça-feira.
Rouhani conta com o apoio de Moscovo, que já condenou as sanções norte-americanas e que se colocou ao lado de Teerão no caso do abate do drone norte-americano na região do Golfo.
O Governo russo admite que o ‘drone’ (aparelho aéreo não-tripulado) das Forças Armadas norte-americanas estava em território iraniano, concordando com a versão de Teerão e contrariando a versão de Washington, que garante que o equipamento foi abatido sobre águas internacionais.
Assim, a reunião bilateral entre Donald Trump e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, à margem da cimeira do G20 em Osaka, pode ajudar a dissipar dúvidas e a encontrar pontos em comum entre os EUA e a Rússia sobre a tensão no Médio Oriente.
Isso mesmo foi pedido pelo primeiro-ministro japonês, que disse depositar confiança na cimeira do G20 a que presidirá como lugar privilegiado para encontrar consensos e dirimir desconfianças, “conduzindo a soluções de paz”.
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