Em Vila Nova de Cerveira, quase todos os anos é construída uma estrutura enorme, por vezes simbolizando um animal ou um monstro, que é queimada durante a noite de sábado, antes do domingo de Páscoa. De ano para ano, ganha uma nova cabeça e vestimenta, e chega junto do público de forma diferente - pelo rio Minho, pelo castelo, no Terreiro, etc.

No final, não importa onde está, o Judas vai sempre arder, e dele restar um esqueleto de madeira e arame queimados. Este ano foi organizado no Terreiro (Praça da Liberdade), num palco onde decorre a performance. Aí vai começar a verdadeira Queima de Judas, uma encenação que surge da tradição popular recuperada nos últimos anos.

A celebração é agora, mais do que uma celebração religiosa, uma manifestação artística, sobretudo no Norte do país. Simboliza a condenação de Judas Iscariotes, o apóstolo que traiu Jesus Cristo, representando a expulsão dos males do ano anterior e a purificação pelo fogo. Antes da queima, é lido um testamento satírico atribuído a Judas,com comentário crítico e reflexões sobre acontecimentos sociais e políticos recentes.

Desde 2006, esta tradição é concretizada através de um espetáculo de teatro de rua. Entre os mais de 400 voluntários, estão atores locais, músicos e a comunidade em geral, criando uma narrativa que culmina com a leitura do "testamento de Judas", um momento de crítica social e política apresentado de forma satírica.

Em 2025, a Queima do Judas ocorreu na noite de 19 de abril, às 23h30. Devido à previsão de chuva, o evento foi transferido para o Quartel dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Cerveira. A encenação, dirigida por Diana Sá e Gonçalo Fonseca, contou com a participação de artistas locais e grupos comunitários, explorando temas de erro, culpa e redenção, oferecendo uma nova perspetiva sobre a figura de Judas - a introspeção coletiva é sempre o objetivo final do momento.