“Estas plataformas estão a destruir o trabalho dos trabalhadores honrados em Espanha e Portugal. Isto é uma luta de gente trabalhadora. Estão a sacar a economia do país, em Espanha é igual, os políticos são corruptos, aqui é igual. Os políticos só querem dinheiro, há que ir contra os políticos”, disse Saul Crespo, porta-voz dos taxistas espanhóis.
Os dois táxis que fizeram mais de 600 quilómetros para se juntar ao protesto dos portugueses foram recebidos pelas centenas de profissionais concentrados na Praça dos Restauradores com fortes aplausos e gritos como “somos táxi, somos táxi”.
“Temos de estar todos unidos, paramos todos ou é a morte”, disse Saul Crespo à ‘plateia’, que o ia aplaudindo e gritando palavras de ordem, defendendo que os taxistas portugueses “não podem parar a luta” e têm de convencer os restantes companheiros que ainda não se juntaram aos protestos de que “a luta é de todos”.
“Há que bloquear, aparcar e fazer de tudo com pulso para mostrar aos políticos que os taxistas têm poder. Se o Governo não der solução, daqui não sai ninguém”, incentivou o taxista espanhol, que pertence à associação Caracol, uma das que estão à frente das manifestações dos profissionais em Espanha.
Ao palanque improvisado na Praça dos Restauradores subiu também António Pereira, membro da Federação Portuguesa do Táxi e da organização do protesto, que lembrou aos colegas ter sido um dos portugueses que foram a Madrid apoiar os profissionais aquando do seu protesto.
A iniciativa durou uma semana, nos finais de julho.
“Só não conseguimos se não houver união. Quero comer hoje e amanhã. Não quero pensar que daqui a um ano não tenho pão para comer”, disse António Pereira, gritando para os companheiros “força e nem um passo atrás”, ‘slogan’ repetido por diversas vezes pelas centenas de taxistas presentes.
Os muitos aplausos demonstraram que os taxistas não pensam desmobilizar nas próximas horas, salvo se tiverem alguma resposta por parte do poder político.
Os taxistas estão concentrados desde quarta-feira de manhã em Lisboa, Porto e Coimbra, com as viaturas paradas nas ruas, para tentar impedir a entrada em vigor, em 01 de novembro, da lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte de passageiros em veículos descaracterizados.
Segundo a organização, nas ruas estão parados, no total, cerca de 1.600 viaturas.
Em Portugal operam quatro destas plataformas: Uber, Taxify, Cabify e Chauffeur Privé.
Desde 2015, este é o quarto grande protesto contra as plataformas que agregam motoristas em carros descaracterizados, cuja regulamentação foi aprovada, depois de muita discussão, no parlamento, em 12 de julho, com os votos a favor do PS, do PSD e do PAN, os votos contra do BE, do PCP e do PEV, e a abstenção do CDS-PP.
A legislação foi promulgada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 31 de julho.
Os representantes do setor do táxi foram recebidos na quarta-feira pelos partidos com assento parlamentar, aos quais pediram o procedimento de fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma e que, até à pronúncia do Tribunal Constitucional, se suspendessem os efeitos deste, “por forma a garantir a paz pública”.
Um dos principais ‘cavalos de batalha’ dos taxistas é o facto de na nova regulamentação as plataformas não estarem sujeitas a um regime de contingentes, ou seja, a existência de um número máximo de carros por município ou região, como acontece com os táxis.
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