No debate televisivo entre Rui Tavares e André Ventura, na CNN Portugal, o dirigente do Livre começou por caracterizar o líder do Chega como o “candidato do sistema, apadrinhado por primeiros-ministros e ministros de Governos anteriores, por dirigentes de clube de futebol, pela imprensa” e de ter tido “todos os favores para ter toda a antena do mundo”.
“O Livre, para estar aqui, teve de vencer as resistências dos canais de televisão e dos partidos”, afirmou, em referência ao facto de o plano inicial dos debates televisivos não incluir aquela força política, tendo depois a Comissão Nacional de Eleições pedido à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) que impedisse a sua exclusão.
Na resposta, André Ventura considerou que Rui Tavares não devia estar no debate, “porque o Livre não está no parlamento” – o Livre elegeu Joacine Katar Moreira em 2019, tendo-lhe depois retirado a confiança política – e acusou o partido de ter o “programa mais anacrónico que existe nas legislativas”.
Ventura criticou propostas do Livre como a criação de uma taxa universal sobre o carbono ou de uma taxa municipal sobre o entulho, acusando ainda Rui Tavares de querer “pagar a quem não trabalha e não faz nada”, ao propor medidas como um subsídio de desemprego para quem se despede ou a testagem de um rendimento básico incondicional.
Na mesma moeda, Rui Tavares frisou que o programa do Chega não é “coisa que se apresente ao país”, criticando-o por não mencionar temas como o ambiente, o interior, a violência doméstica, as cidades ou mesmo bandeiras do partido, como a revisão constitucional ou a instituição de uma IV República.
“Este é um programa que não tem nada para oferecer de futuro e por isso pretende falar de propostas que são do século XIX”, realçou.
Continuando a visar o programa do Livre, Ventura criticou medidas como a restituição de obras de arte às ex-colónias – considerando que o partido está a “trazer um debate de feridas à sociedade portuguesa” – ou a criação de um passaporte humanitário internacional, que caracterizou como permitindo que os imigrantes “entrem por onde quiserem”.
Sobre o passaporte em questão, Rui Tavares salientou que se trata de uma “das formas de responder a uma situação dramática” que ocorre no mar Mediterrâneo e relembrou que Calouste Gulbenkian também entrou em Portugal com um passaporte humanitário internacional.
Reagindo às críticas de André Ventura aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), Rui Tavares afirmou que o vê “muito frequentemente atacar quem tem menos”, mas não o vê “a dizer mais que o trivial em relação àqueles que andam a esbulhar o dinheiro que em Portugal pertence” às escolas, às bibliotecas e aos hospitais.
Na resposta, Ventura sublinhou que as suas críticas ao RSI são “para moralizar o sistema”, considerando que o país não pode continuar a funcionar quando, a par dos subsídios que existem para as “pessoas que efetivamente precisam” e que o partido quer manter, “há outras que não precisam para nada”.
Retomando o tema, Tavares salientou que Ventura “fala muito dos beneficiários do RSI”, mas “pouco de quem beneficia o seu partido” – alegando que o Chega é financiado por “gente ligada à indústria do armamento”, a casos de “burla do Estado angolano” ou “gente com contas em offshore –, com André Ventura a relembrar que Rui Tavares foi candidato nas listas do PS à Câmara Municipal de Lisboa, um partido que alegou ser financiado também “por grandes interesses ocultos de armamento e de ‘offshores’”.
O debate terminou com André Ventura a criticar Rui Tavares e o Livre por terem apresentado menos de dez propostas na Assembleia da República durante a legislatura, e não terem apresentado nenhuma contra a corrupção, e com o dirigente do Livre a afirmar que, quando foi eurodeputado do Bloco de Esquerda entre 2009 e 2014, escreveu vários relatórios sobre a matéria.
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