“Não regateamos essas responsabilidades. Há de facto alguma falta de cumprimento de deveres por parte, eventualmente, de militares que estavam a desempenhar estas funções [de vigilância]”, afirmou o major-general Nunes da Fonseca, que assumiu funções como inspetor-geral do Exército em junho de 2018.
Perante os deputados da comissão de inquérito ao furto de material de guerra dos paióis de Tancos, o major-general considerou que o efetivo para fazer as rondas aos paióis “24 horas de serviço” – oito militares - “estava bem dimensionado”, recusando atribuir ao problema mais geral da falta de efetivos a culpa pela falha na vigilância.
Contudo, o oficial frisou que na altura do furto, divulgado em 29 de junho de 2017, os militares do Exército foram “empenhados sucessivamente” em missões de apoio ao combate aos incêndios, colocando “sérios problemas” de pessoal e de “regeneração” das tropas.
“Eu conheço a arma de Engenharia - a Unidade responsável pela vigilância dos paióis na altura do furto -, é a arma do trabalho, extremamente profissional, que sabe do seu ofício, competentes”, frisou.
Para o major-general, “as coisas estavam a funcionar, e não funcionaram naquele momento [do furto] e há circunstâncias que interessa apurar”.
Questionado pelo CDS-PP, Luís Nunes da Fonseca referiu estar convicto de que entre 2012 e 2013 os paióis nacionais de Tancos (PNT) foram objeto de uma “inspeção”, dado que contraria o documento enviado pelo anterior ministro da Defesa ao parlamento.
“Fui [aos paióis da base] de Santa Margarida na qualidade de elemento de equipa da inspeção. Não fiz o trabalho de Tancos, mas recordo-me que houve equipa de oficiais que foram a Tancos e fizeram trabalho”, declarou.
Confrontado com a informação contida num dos anexos do relatório, intitulado “Tancos 2017: Factos e Documentos”, o major-general disse ter a ideia de que “havia uma equipa” dedicada aos paióis de Tancos, admitindo, contudo, “algum lapso” e disponibilizando-se para clarificar posteriormente os dados.
“Os PNT não foram objeto de inspeção, resultante da prioridade estabelecida, assente na maior incidência de problemas”, refere o documento, citado pelo deputado António Carlos Monteiro.
Questionado pelo BE sobre se a falta de meios humanos e materiais terá contribuído para a falha de segurança nos paióis de Tancos, o major-general recusou a ideia, reiterando que “há uma falha de procedimentos” que não pode ser justificada com a falta de meios.
Tal como o general Amorim Ribeiro defendeu na semana passada numa audição na comissão de inquérito, Luís Nunes da Fonseca defendeu a necessidade de se manter os paióis de Tancos como estrutura de armazenamento do Exército.
“O general chefe anterior [Rovisco Duarte] pretendia acabar com o problema de Tancos extinguindo os paióis, mas nós precisamos daquela estrutura. Se nós tivermos as quantidades estipuladas [de material de guerra], precisamos de Tancos”, assumiu.
O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos tem previstas audições a mais de 60 personalidades e entidades, vai decorrer até maio de 2019 e é prorrogável por mais 90 dias.
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