O vice-almirante Monteiro Montenegro, assessor militar de António Costa à data do furto de Tancos, em junho de 2017, foi ouvido por pouco mais de uma hora sobre o que soube e não soube acerca do roubo.
Monteiro Montenegro garantiu que nunca teve “qualquer conversa sobre Tancos com o primeiro-ministro” e explicou que o principal conselheiro” do chefe do Governo em matérias de Defesa era o ministro na altura com essa pasta, José Azeredo Lopes, que mais tarde se demitiu.
Nem nunca António Costa lhe pediu qualquer ação ou iniciativa por causa deste “dossier”. Ficou na expectativa, mas nada lhe foi pedido, confessou, nem fez qualquer relatório ao primeiro-ministro sobre “a gravidade” do que aconteceu nos paióis de Tancos em junho de 2017.
Tantas respostas evasivas ou negativas levaram Matos Rosa, do PSD, por exemplo, a questionar o vice-almirante sobre as suas funções e ouviu, como resposta, uma lista de atribuições, como analisar relatórios do Ministério da Defesa, documentos da União Europeia ou da NATO, relatório do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) ou ainda preparar visitas de Costa a unidades militares.
“Não falou com o primeiro-ministro, nem o primeiro-ministro falou consigo deste assunto, não deu qualquer conselho e não lhe foi pedido qualquer conselho. (…) O que estiveram a fazer?”, questionou António Carlos Monteiro, do CDS-PP, como se não estivessem preocupados com o assunto.
Pelo contrário, respondeu o vice-almirante, o chefe do Governo estava muito preocupado e agiu para evitar que “uma situação daquelas se repetisse”.
Já a reunião estava a acabar quando a deputada do PSD Fátima Ramos, a título pessoal, questionou o assessor se o que acabava de acontecer “não daria razão” às pessoas que, “lá fora”, questionam se o Governo não terá “assessores a mais”.
“O senhor, como assessor, ou, de facto, o primeiro-ministro não o ouvia ou não cumpriu a sua função como assessor”, afirmou Fátima Ramos.
Ao que o vice-almirante, afirmando respeitar “a opinião”, repetiu o argumento de que “o conselheiro privilegiado [do primeiro-ministro] em matéria de Defesa é o ministro da Defesa”.
O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017. Quatro meses depois, a Polícia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
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