Ouvido na comissão de inquérito sobre o furto de Tancos, o militar relatou que a 11 de outubro pediu cópia do documento ao então ex-chefe de gabinete do ex-ministro Azeredo Lopes, Martins Pereira, e que o general lho entregou “no dia 12 de manhã”.
“Ele prontificou-se a dar-me cópia do documento e deu-me no dia 12 de manhã, um documento sem timbre, sem data. Falei com o chefe de gabinete do primeiro-ministro [Francisco André] e disse-lhe ‘passa-se isto assim-assim’ e eu entreguei o documento ao chefe de gabinete no dia 12″, relatou.
“Não sei qual foi o destino subsequente do documento”, disse.
No mesmo dia, à tarde, o ex-ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes anunciou a demissão do cargo, facto que levou o deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro a questionar se terá sido coincidência.
“Não faço ideia”, respondeu Tiago Vasconcelos.
Questionado pelos deputados do PS sobre se viu no documento alguma responsabilidade do então ministro Azeredo Lopes, do primeiro-ministro ou do ex-chefe do Estado-Maior do Exército numa eventual encenação ou encobrimento, o militar respondeu: “zero”.
“E realmente não se vê aqui [no documento] evidência de qualquer crime”, considerou.
O assessor militar do primeiro-ministro solicitou a Martins Pereira cópia do “memorando” na sequência de notícias divulgadas dias antes, segundo as quais o ex-investigador da PJM Vasco Brazão entregou ao ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes um documento sem timbre e sem data descrevendo uma “encenação” da recuperação do material furtado.
O general Martins Pereira admitiu depois que tinha recebido um documento e que entregou ao DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal).
Na audição de hoje, e questionado sobre se entendeu que operação de recuperação do material foi uma “encenação” da PJM, o major-general declarou que “quase de certeza absoluta, o senhor primeiro-ministro não sabia de encenação nenhuma”.
Tiago Vasconcelos admitiu que só “despertou” para a questão de Tancos a partir do momento em que a 14 de julho de 2018 foi noticiado que havia material em falta, entre granadas e explosivos, naquele que foi recuperado na Chamusca, quatro meses depois do furto, ocorrido em 2017.
Sobre esta questão, o major-general disse que não lhe pareceu que o “primeiro-ministro pudesse fazer outra coisa que não esperar que a investigação judicial decorresse”.
Questionado pelo CDS-PP sobre o primeiro-ministro ter afirmado, em 2017, que o material tinha sido “todo recuperado”, o major-general respondeu que se o primeiro-ministro o afirmou “é porque era essa a informação que tinha”.
O assessor militar disse ainda que, decorrendo uma investigação judicial, a questão de Tancos “não era uma questão candente e prioritária” porque naquela altura, em julho de 2018, a “questão que ocupava mais tempo era a preparação da cimeira da NATO em Bruxelas”.
O ex-ministro Azeredo Lopes, que se demitiu devido ao processo, em 2018, será o último a ser ouvido na comissão, em 07 de maio.
O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.
O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
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